terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Promessas de Ano Novo. De novo?


De repente, a gente se dá conta de que o ano está terminando. É o momento em que muitos se lembram de fazer planos e promessas. Bem, nem todo mundo. Há os que seguem o "velho" conselho do Zeca Pagodinho, de "deixar a vida me levar". É uma!!

Mas acho que a maioria, ainda que acabe deixando a vida lhe levar, arrastado pelas pressões do dia-a-dia, faz algum tipo de "balanço anual". Mesmo que este dure poucos segundos durante a contagem regressiva da virada do ano:

- "Ai meu Deus do Céu, este ano bem que poderia nem ter existido!!!!"

Alguns são bastante genéricos, na hora de pensar no que vem pela frente: um novo amor, muito dinheiro, emagrecer, finalmente passar em um concurso público, mais saúde, outro emprego, fazer exercícios, etc.

Outros, capricham nos detalhes: preenchem folhas e mais folhas, especificando mês a mês, semana a semana, o que precisará fazer de concreto no futuro imediato.

Qual o certo? Qual funciona melhor? Lamento, mas nessa hora, não há fórmulas mágicas, nem regras rígidas. Isto tem muito a ver com a personalidade e o estilo de cada um.

Mas aí vão alguns pontos que eventualmente podem ajudar:
- É sempre útil avaliar o passado realisticamente e aprender com erros e acertos. Isto nos faz melhorar e amadurecer.
- O que nos fez mais feliz no ano que passou? Como replicar e ampliar estes momentos?
- Seja sincero com os "velhos" desejos não realizados. O que falta para colocá-los em prática? Continuam fazendo sentido, neste momento?
- Não tenha mais do que uma meia dúzia de metas. É o que provavelmente vai dar para administrar em meio às mudanças e coisas inesperadas que vão aparecer ao longo do caminho.
- É sempre bom registrar estas metas em algum lugar, para "gerencia-las" melhor.

Fazer planos é uma atitude saudável. Certamente melhor do que "entrar em campo", novamente, sem direção, onde o risco é você usar seu tempo a serviço dos planos dos outros. Não se preocupe se vai conseguir atingir todas as metas ou não. O importante é ter uma direção, um guia que ajude neste mundinho cada vez mais cheio de surpresas.

Feliz Ano Novo!


Foto: http://www.melhorpapeldeparede.com/images/ano_novo-4908.htm


         

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tempo de Natal, um bom presente

Para alguns, é tempo de acelerar. O ano está acabando, há metas há cumprir na empresa; há ainda uma extensa lista de presentes para comprar em shoppings que vão ficando intransitáveis; há dúvidas sobre o réveillon, com quem vai passar, onde vai ser; há um monte de coisas pendentes a se resolver com urgência, para as viagens de férias que se aproximam. 

Para outros, é tempo de adesão ao movimento slow food: as divertidas (e sem pressa) comemorações com os amigos de várias tribos (como se multiplicam!); as festas natalinas em família ou entre amigos, na véspera e o dia seguinte, em torno de uma mesa que se espera diferente do restante do ano, ainda que quase igual à dos anos passados; mesmo quando somos obrigados a nos dividir, pelas natural evolução das famílias, cada encontros tende a ser prolongados e curtido, dentro das possibilidades de cada um.

Para outros, ainda, é tempo de mobilização para fazer o bem, dar atenção e carinho a quem necessita; de entender o que falta e onde falta e compartilhar isto com mais gente, para que a solidariedade se expanda e se torne concreta e ainda mais justa.

Para uns, enfim, é tempo de ficar ocupado, seja com seus próprios afazeres, seja com os afazeres dos outros; para muitos, é tempo de fazer menos, dar uma pausa, refletir, desacelerar.

Para todos, este tempo é oportunidade para um encontro consigo mesmo, a chance para balanço, sempre bem vindo, sobre o sentido de tudo que estamos vivendo e aonde queremos chegar. Estas últimas duas semanas do ano são, tudo somado, um bom momento para nos presentearmos com algo muito especial: pensar sobre nosso Tempo.

Foto: http://www.dreamstime.com  Ref: 11041382

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

DIREITO AO DELÍRIO (Eduardo Galeano)



Neste vídeo "histórico", o escritor uruguaio Eduardo Galeno nos brinda com este DIREITO AO DELÍRIO, a partir da definição do que é e pra que serve a UTOPIA, do cineasta argentino Fernando Berri.

CLIQUE AQUI  para assistir ao vídeo (http://www.youtube.com/embed/rpgfaijyMgg)

Foto: El Clarin

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Compartilhar vivências é uma ótima forma de se usar o tempo

“...Tudo o que é compreendido, circula; sai de mim e existe entre nós. Faz parte de círculos e fluxos de pessoas. Toda a verdade
que é só minha não é de ninguém, nem mesmo minha. Todo o saber é partilha e todo o imaginário de ideias e de pequenos ou grandes ideais de vida vale não apenas pelo conteúdo, mas pela quantidade de vozes que foram aos poucos construindo.”  (CARLOS RODRIGUES BRANDÃO)

Esta reflexão foi retirada do mais recente "Caderno Arte de Educar", que está sendo lançado esta semana. Ele apresenta "UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA NA CONSTRUÇÃO DE TERRITÓRIOS DE APRENDIZAGEM", onde , mais uma vez a organização nos mostras como os processos de aprendizagem se enriquecem quando alunos e professores, comunidade e atores da sociedade, educação e cultura se dão as mãos.

Saiba mais sobre a Casa da Arte de Educar em  www.artedeeducar.org.br
Compartilhar conhecimento e experiências é uma maravilhosa e produtiva maneira de se usar o tempo. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Não deixe o stress lhe queimar

No ótimo artigo “Executivos no limite, riscos para os negócios”, publicado semana passada no jornal O Globo, o medico Gilberto Ururahy faz nos faz um duro alerta com relação ao stress nas empresas. Correndo atrás de metas organizacionais cada vez mais agressivas e difíceis de serem alcançadas, muitos executivos estão chegando “a um grau de exaustão física e emocional que pode levar à depressão e até o suicídio”, que é diagnosticado como Síndrome de “Burnout” (“queimar por inteiro”).

Segundo estudos da Universidade de Brasília, 70% da população brasileira sofrem de stress crônico e desse total, 30% apresentam Burnout, comenta Ururahy. É muita gente!!!! No ambiente corporativo , o stress é a resposta do indivíduo à pressão permanente das metas, aos riscos das tomadas de decisão, às exigencias de clientes, à disputa com concorrentes e mesmo à insegurança de perder o emprego.

Como não conseguem administrar seu tempo em meio a tantas prioridades que concorrem entre si, sucumbem ao stress. As consequencias para as empresas são claras: improdutividade, afastamentos e custos de doenças, riscos de decisões mal feitas.

E para as pessoas? Este alto nível de stress além de trazer doenças, traz uma estranha sensação de não felicidade.

Como questiono no livro Tempo Orgânico, estamos vivendo mais (expectativa de vida), mas sera que estamos vivendo melhor? Atrás de que estamos correndo com tanta voracidade?

O IBGE nos informa que mais da metade da nossa população sofre de doenças cronicas (cardiovasculares, diabetes, dores nas costas e articulações, cancer, etc. ). A Organização Mundial de Saúde (OMS) nos revela que, até 2030, a depressão sera a doença de maior incidência no mundo. É para isso que estamos (sobre)vivendo?

Minha sugestão é prestarmos MUITA atenção, mas MUITA mesmo, na maneira como estamos usando – e gerindo- nosso tempo. Que objetivos temos de fato, nos nossos diferentes papéis? Que estratégia pensamos usar para chegar neles? Sob a ótica do tempo, quais são as relações que (man)tempos conosco, com as outras pessoas e com o ambiente que nos cerca? Estamos conscientes e de fato plenamente presentes em cada momento da vida?

Enfim, muitas perguntas que sinalizam apenas para uma questão: não dá para seguir adiante à mercê deste stress endêmico de que nos fala Ururahy em seu artigo. Não é justo e, a meu ver, não é necessário deixarmos queimar o que temos de melhor dentro de nós. É hora de uma séria, profunda e criativa reflexão sobre isso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sumário do Livro Tempo Orgânico


Atendendo a pedidos, publicamos abaixo o conteúdo do livro: 

Prefácio – Ricardo Young
Prólogo - Tempo e vida sustentável de mãos dadas

Parte 1 – Reflexões sobre um tempo saturado

Capítulo 1 - A saturação do tempo: não dá pra fazer
tudo que queremos

Em busca do paraíso perdido
Não tenho tempo pra nada
Aceleração: porquinhos, olimpíadas e tempo real
Saturação: mais é melhor
Voracidade: atrás da última novidade
Ansiedades e frustrações
Tudo ao mesmo tempo agora
Quem está doente, afinal
Hora para estar feliz

Capítulo 2 - A saturação do planeta: não dá pra
continuar deste jeito

Onde vai terminar essa paixão por crescimento?
Outra avaliação de desenvolvimento
Algo de estranho no reinado do PIB
O Estado do Mundo é preocupante, sim
Casamento em Schan-Xi
Quantas Havaianas você tem?
Tendência não é destino
A leveza de ser sustentável

Capítulo 3 - Uma pequena viagem no tempo 
De nômades a sedentários: no compasso da natureza
O homem se liberta do sol
A ditadura dos relógios
Nem Einstein nem ninguém
Façamos como a ciência: de olho na natureza
Relógios muito particulares

Capítulo 4 - O Tempo Orgânico 
O Papalagui não tem tempo
Acordando para o tempo orgânico
As raízes do Tempo Orgânico
A estruturação do Tempo Orgânico
Mudança de hábitos: difícil, mas necessária e possível

Parte 2 – Dando vida ao Tempo Orgânico 
Capítulo 5 - Como sistematizar o Tempo Orgânico 
A vida sem roteiro?
Simples de entender, mas sempre acaba em pizza
O que todos estão cansados de saber
Pensar no futuro: visão, metas e desejos
Organizar o tempo: prioridades, registros, controles
Lidar com as barreiras e dificuldades
A Mandala do Tempo Orgânico

Capítulo 6 - Você com você mesmo 
Água e pensamentos
Um salto quântico para o Tempo Orgânico
Pensar no futuro
O gênio da lâmpada
O futuro é parceiro do presente
Discípulos de Nostradamus?
Noite escura no Tijupá
O Banco do Tempo
Sem prazo fica mais difícil
Estabelecer prioridades: os quatro quadrantes
O ter versus o ser
Medo, prazer e dor: programações do passado
Boas maneiras de se jogar tempo fora
Tecnologia de comunicação: o feitiço contra o feiticeiro?
Outras pequenas dicas sobre desperdícios & etc.
Você o protagonista

Capítulo 7 - Você e os outros 
Vamos jogar frescobol?
Interdependência
Pensar no futuro
Sinergia
Organizar o presente
Tempos compartilhados
Você me dá a receita?
O e-mail já era?
Lidar com barreiras
O perigoso território das comunicações
Saber ouvir, saber perguntar: de olho em quem sabe
Lições dos índios: fala um de cada vez
Conflitos
Diversidade e compaixão: ingredientes do tempo orgânico
Você e os outros no contexto das empresas
Duas ótimas metodologias de trabalho em grupo
Conference calls: reuniões em ritmo virtual
Ecologia das horas

Capítulo 8 - Você e o ambiente que o cerca 
Aplaudindo o por do sol
Pensar no futuro
Hora de repensar tudo
O relógio do longo agora
Organizar o presente
Se não eu, então quem? Se não agora, então quando?
Mas já não tem gente pensando nessas coisas todas?
Empreendedores sociais: todo mundo pode mudar o mundo
Um enorme exército em potencial
Novas pegadas
Aprendizes de formiguinhas
Lidar com as barreiras
O nó do consumismo (ir)responsável
Outro voluntariado: pela simplicidade
Investimentos com bom retorno

Capítulo 9 - O cultivo do Agora Slow food em New Jersey
Agora: um manifesto
Respiração, a grande coadjuvante
Bonsais, conchas e Aikidô
A velocidade do Agora
Desacelerando até o momento presente
Brincar de Deus
Sabá
Medito, logo existo
Agora é hora da criação
É brincadeira!

Epílogo 
Tao da sustentabilidade
Ecosofia: as três ecologias
Reinventar-se é preciso
Os ritmos da vida
Pixels, sustentabilidade e colchas de retalhos

Notas 

Bibliografia          

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Quatre-vingts - A arte de fazer 80 anos









O texto abaixo, de autoria de Washington Luiz Bastos Conceição, foi publicado em seu blog "Escritos do Washington" , apenas com o Quatre-vingt no título. Optamos por adicionar o "Arte de fazer 80 anos", pois foi assim que sentimos o texto.   

A quem interessa saber se alguém está completando 80 anos?

Aos seus parentes e amigos, parece-me. Os conhecidos, que em geral se mostram surpresos, com sinceridade ou não, dão pouca atenção ao assunto. Destes, serão exceções, provavelmente, aquelas pessoas que estão se aproximando dessa idade e passam a se preocupar mais com o que lhes reservarão os próximos anos.
Mas o próprio, o aniversariante, fica impressionado, pois sabe que, mesmo com o aumento significativo da expectativa de vida nos últimos anos, já passou da média, já está usando o lucro, a colher de chá do Todo-Poderoso.

Pois bem. O preâmbulo é para lhes contar que este mês estou entrando no time dos oitenta; com sentimento mesclado de admiração, preocupação, curiosidade, e com a sensação de que não está acontecendo comigo. Eu, um octogenário, incorporando a imagem que eu mesmo via dos mais velhos, há tão pouco tempo?

Não resisti, quis comentar o assunto com vocês, os poucos (porém atenciosos) leitores de meus escritos.
Oitenta, assim de repente, parece um número pesado.
Só que essa idade não chegou de repente, a velhice não se instala de vez; vai progredindo lentamente, sub-repticiamente, impondo novas restrições físicas, exigindo manutenção e revisões médicas com mais frequência (às vezes requerendo peças de reforço); e, ainda, solapando a memória. Enfim, é todo um processo que se desenvolve após o ápice da forma física, mais ou menos quando se atinge o que se convencionou chamar meia-idade.

Venho pensando, já faz algum tempo, nas várias fases da vida, pelas quais passamos, desde a infância até a velhice. Agora, entretanto, o novo patamar de idade me impressionou e me fez pensar em outra maneira de ver o número – e lembrei-me dos franceses, que não falam oitenta, mas sim quatro vintes, “quatre-vingts”. Ocorreu-me, então, que ao chegar aos oitenta, podemos considerar, por exemplo, que passamos por quatro fases de vinte anos. Nos primeiros vinte, vivemos o desenvolvimento físico e mental, adquirimos as bases do conhecimento. Nos vinte seguintes, a formação e as atividades profissionais, a constituição da família, a inserção na sociedade, o aprimoramento físico e mental. Dos quarenta aos sessenta, a maturidade, o apogeu profissional, o encaminhamento e a emancipação dos filhos. Dos sessenta aos oitenta, com a meia-idade, a adaptação às novas condições físicas, a passagem profissional do bastão e, com a aposentadoria, a ampliação do tempo de lazer; deste, é parte importante e muito agradável, para quem tem o privilégio de ganhar netos, o acompanhamento ao máximo de sua evolução.

Portanto, estou, na realidade, completando os “quatre-vingts”.
E agora, Washington?

Agora, é tratar da vida que me resta, começando por planejá-la.

Estimulado pelo livro “Tempo Orgânico”, do amigo Álvaro Esteves, estou ensaiando um plano de aperfeiçoamento de vida, a partir da visão de como desejo estar dentro de uns três anos, envolvendo saúde, residência, atividades diárias (incluindo o trabalho de escrever), relações sociais e lazer. A partir dessa visão (ou objetivo) que providências tenho de tomar em todas essas áreas para que eu consiga chegar lá nas condições esperadas.

Na verdade, é uma agenda semelhante às dos projetos com que lidei no trabalho a vida inteira. A diferença é que se trata agora de minha vida, nesta nova fase, e que eu tenho de controlar o projeto e não ficar apenas nas boas intenções de ano novo. Espero atingir as metas do plano.

Washington Luiz Bastos Conceição
(http://washingtonconceicao.blogspot.com.br)

domingo, 16 de setembro de 2012

As crises fabricadas por quem gosta de empurrar com a barriga

Tem gente que não tem jeito. Teima em ser “bombeiro” para apagar "incêndios", que ela mesmo provoca. E aí, tem a gratificação de posar de herói, de “salvador da pátria”, conseguindo “olimpicamente” resolver complexas e urgente situações que haviam sido geradas pelo próprio comportamento de procastinador e mau planejador do tempo. Muitos trabalham no modo "combate a incêndio" convencidos de que a adrenalina tem de estar presente.

O procastinador bombeiro usa muitos subterfúgios. Um dos favoritos é o comando de “seja perfeito”. Como tem de fazer tudo de forma irrempreesível, vai esperando o bloco de tempo suficientemente grande para agir de acordo com a necessária perfeição. Como este bloco nunca aparece, ele acaba empurrando com a barriga e tudo desemboca num monumental problema que toma indevidamente o tempo de muita gente .

E, em meio à crise obtém sempre muita atenção para o que fazem. Ficando no centro do palco, sob as luzes coloridas dos refletores, essas pessoas se sentem importantes . É gente que muitas vezes chega cedo e sai tarde do escritório, ou são donas de casa que se “descabelam” e se estafam por deixar para última hora certas atividades que poderiam ter sido feitas semanas antes. Mas assim ninguém saberia das suas façanhas e dificuldades. Há também o estudante que consegue, no último exame do ano, aquela nota difícil necessária para não repetir o ano ou ficar de recuperação. Vira herói diante dos pais e colegas.

Brook e Mullins dão uma receita interessante de como lidar com estes geradores crônicos de crises:

1. Avalie direito - já que as crises são fabricadas, sua importância e urgência provavelmente são menores do que o gerador de crises nos teria feito acreditar. Não se deixe levar pelas evidências. Todo cuidado é pouco.
2. As emoções do incêndio não são as suas - portanto você não precisa compartilhá-las como o gerador. A crise e o prazer de se envolver nelas pertence a ele.
3. Leve em conta a hipótese da existência de crises fabricadas - se você trabalha ou vive com uma pessoa dessas, faça seus planos assumindo que os incêndios virão e preveja o que você pode fazer para antecipar-se a eles e minimizar seus efeitos .
4. O combate a incêndios fabricados é uma forma dispendiosa (em termos de tempo, recursos e desgastes emocionais) e portanto não recompense este comportamento com qualquer gratificação objetiva ou subjetiva. Mostre os outros aspectos vantajosos de não se viver em crises.

E se o gerador de incêndios for você? Aí a coisa muda de figura. É preciso se conscientizar de alguns pontos importantes :
- Sua reputação por ser organizado e competente lhe trará maior confiabilidade do que insistir em ser herói o tempo todo. As pessoas acabam desconfiando desse comportamento e se cansam de gastar sua adrenalina.
- As crises constantes caem na paisagem. As pessoas aprendem a não dar destaque ou atenção a elas. Se pedir ajuda com menos frequência terá muito mais apoio quando o precisar, numa situação de incêndio verdadeiro.
- As crises fazem mal à saúde- seu físico e seu emocional são abalados por excessiva exposição ao stress e à tensão.
- Procure outro tipo de gratificação pessoal - amplie seus hobbies, seus contatos externos. Concentre-se nos seus objetivos maiores na vida os encare como a maior das gratificações quando alcançada.

domingo, 2 de setembro de 2012

Tempo fatiado: você está contando o seu?


Esta história do fatiamento do processo do mensalão – que se revelou uma estratégia ao mesmo tempo didática para os leigos que acompanham o processo e eficaz para julgamentos que até aqui têm se mostrado consistentes – me trouxe a lembrança do fatiamento do tempo.

Mas, ao contrário do ritmo lento e das fatias enormes de cada análise no Supremo, em nossas vidas, cada vez menos nos damos conta de como fragmentamos o dia em mínimos pedaços. E acabamos perdendo a consciência das duas consequências dessa realidade. Por um lado, não contabilizamos a enorme quantidade dessas pequenas coisas que fazemos e acabamos frustrados, sempre reclamando que não dá tempo para nada. Por outro lado, vamos deixando de ter sensibilidade para separar aquilo que de fato é relevante do que é tempo jogado fora, nesses fragmentos que vão se sucedendo, e ficando para trás, um dia após o outro.

Não tenho a menor dúvida que as oportunidades para termos mais tempo aplicado no que é IMPORTANTE passam exatamente por este “varejão” de segundos e minutos e a nossa maneira de lidar com eles. Por trás de cada fatia, grande ou milimétrica, está sempre envolvida uma decisão nossa ao optarmos por uma atividade ou por outra. 

Grande parte dessas decisões passa despercebida, por exemplo, ao desviarmos nosso olhar para um SMS – ou uma postagem de FB - em meio a uma tarefa que demandaria concentração absoluta para ser concluída com eficácia.  Ou quando estamos multiprocessando informações, em casa, tudo "ao mesmo tempo", com a TV ligada, falando ao telefone, respondendo e-mails no computer ou iPad, ligados nas mensagens no smartphone e passando os olhos numa revista ou jornal. Tudo isso enquanto a panela está no fogo ou outra atividade “analógica” está em curso. 

É claro que o cérebro só dá atenção dedicada a uma coisa de cada vez, mas o fatiamento vai se multiplicando, se acelerando, nos “desgastando” e às vezes nos estressando, sem nos darmos conta disso. E isto impede que possamos fazer um inventário “completo” das mil pequenas ações que fizeram parte do nosso dia, o que nos daria uma sensação gostosa de realização. Possivelmente, uma boa parcela dessas "mil coisas" pudesse simplesmente não ser feita, gerando blocos de tempo maiores para recuperarmos aquelas atividades que requerem de fato maior atenção e reflexão. Aquelas que tanto reclamamos nunca ter tempo para fazê-las.      

Fonte da Foto: http://forum.xda-developers.com/showthread.php?p=25123872

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Não, uma palavra sagrada


Geraldo Ferreira, meu amigo e parceiro de muitos seminários de Administração de Tempo, é quem contava o caso (verídico) de um certo gerente que tinha um cartaz muito sugestivo, pendurado na parede atrás de sua mesa.

O peça tinha em destaque a palavra NÃO e um subtítulo: Palavra sagrada. Aí o texto explicativo: Aparece 12 vezes nos 10 mandamentos de Deus (Êxodo 20. 1 a 17).

Sempre que alguém entrava na sala, a primeira coisa que o tal gerente fazia era apontar para o cartaz, dando a priori o tom da conversa, caso fosse estar diante de algum pedido indesejado. Era um sujeito folclórico, sem duvida, mas fica dele uma lição interessante.

Um dos fatores de desperdício de tempo mais reconhecidos é nossa dificuldade de dizer NÃO. Ou melhor, a nossa dificuldade de saber dizer o NÃO. Costumo lembrar que a coisa mais importante, nesse caso, é termos a consciência de que sempre que dizemos NÃO a alguma coisa, estamos tacitamente dizendo SIM a outras prioridades que são mais relevantes para nossa vidas. E quanto mais claras e bem definidas forem estas prioridades, mas fácil será dizer NÃO a prioridades que outras pessoas estão querendo nos "impor".

Do cartaz, não precisamos, certamente, mas disciplina e atenção para lembrar os SIM por trás de nossos NÃO pode trazer bons frutos a uma rotina de vida "sem tempo pra nada".


  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Entrevista à Atitude Sustentável sobre Tempo Orgânico





A entrevista abaixo foi dada à Gisele Eberspacher, da Revista Atitude Sustentável.

Atitude Sustentável: De maneira resumida, como o tempo se relaciona com a sustentabilidade?
Alvaro Esteves: O fato é que nos tornamos escravos de uma concepção de tempo que não se sustenta mais, e contribuímos, com nosso estilo de vida acelerado e nossa avidez por mais informações e mais opções de consumo, para impactar e ameaçar o ambiente natural e social onde vivemos.
Assim como a economia, a sociedade, a produção e o consumo estão sendo repensados, nossa relação com o Tempo não pode ficar fora dos novos conceitos de Sociedade Sustentável. E há muitas questões aí relacionadas com o tempo, como a simplicidade, novas maneiras compartilhadas de se lidar com a interdependência, e as lições dos ritmos e ciclos da natureza.
Atitude Sustentável: Quando e como esse tema começou a ser uma preocupação na sua vida?
Alvaro Esteves: Com o uso do tempo, a relação é antiga. Em 1993 comecei a conduzir cursos sobre gestão eficaz do tempo e logo em seguida escrevi o livro “Uma questão de tempo”, que tinha aquele foco. Desde 2003, com a criação da Ekobé, empresa de consultoria em sustentabilidade corporativa da qual sou sócio, vinha tendo a oportunidade de refletir sobre a correlação entre aspectos da temporalidade e as questões socioambientais com as quais lidava pessoal e profissionalmente. Há uns três anos, surgiu o conceito de Tempo Orgânico.

Atitude Sustentável: Como você vê que uma maior organização do tempo pode tornar nossas cidades mais sustentáveis?
Alvaro Esteves: Primeiro, há a perspectiva individual do tempo, ou seja qual a contribuição que cada um de nós pode dar para as questões básicas como energia, água, postura e prática de descarte/lixos . Que tempo dedicamos a cada uma desses aspectos e onde o tempo entra neles (um exemplo simples: tempo de um banho)? Há a importantíssima questão da mobilidade, em parte relacionada com algumas decisões nossas do tipo: como quero/posso me descolocar na cidade; quais os limites das negociações sobre trabalhar em casa (home office) ou trabalhar mais perto de casa? Ora economizando tempo, ora investindo tempo de maneira mais criativa, podemos sempre procurar reduzir os nossos impactos.
Depois, há uma perspectiva de como estamos sendo capazes de compartilhar nosso tempo, produtivo ou de lazer, com outras pessoas, incluindo aí o que dedicamos a aprender novas práticas ou debater/encaminhar novas propostas que devem ser transformadas em políticas públicas na área de sustentabilidade urbana.

Atitude Sustentável: De que maneira as pessoas podem melhorar a questão do tempo?
Alvaro Esteves: O que estamos propondo é uma reflexão profunda sobre como e porque estamos fazendo as coisas. A tecnologia nos torna mais eficientes em várias atividades, mas ao mesmo tempo nos traz expectativas exageradas. Achamos que podemos ter acesso a muito mais informações, coisas, desejos e pessoas do que somos capazes, gerando estresse e, paradoxalmente, ameaçando, ao mesmo tempo nossa eficácia e nosso sentido de realização. O Tempo Orgânico propõe novas relações do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com a natureza, na forma de usar o tempo.

Ref: http://atitudesustentavel.uol.com.br/blog/2012/07/17/tempo-organico-e-sustentabilidade/

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Papalagui não tem tempo - observações de um nativo de Samoa sobre os "sem tempo"


Esse é o título de um dos capítulos do livro “O Papalagui”, publicado em 1920, pelo escritor alemão Erich Scheurmann. O autor vivera em Samoa durante a primeira guerra mundial e, segundo conta na introdução do livro, havia conquistado a confiança de Tuiávii – um chefe nativo local. Este lhe confiara os apontamentos que havia feito durante uma visita aos países da Europa, no fim do século anterior, e concordou com sua divulgação.

Papalagui é como Tuiávii denomina o homem branco europeu e nas suas observações, ora divertidas, ora severas – mas invariavelmente justas – fica claro o choque de duas culturas tão diversas. O olhar de Tuiavii é, ao mesmo tempo inocente e crítico. Vai fundo ao mostrar os conflitos que surgem quando o respeito à natureza e a simplicidade, que fazem parte da essência dos nativos, se defrontam com a ânsia pelo progresso e a maneira complicada de ver e de viver do homem branco.

“O Papalagui nunca está satisfeito com o tempo que tem... Nunca existe mais tempo do que aquele que vai do nascer ao por do sol e, no entanto, isto nunca é suficiente para o Papalagui”.


É nítida a crença de Tuiávii de que o tempo é cíclico. É algo que se renova a cada dia, o que ele entende como uma dádiva. Não é algo a priori escasso, como vê o Papalagui. Tuiávii não perde tempo pensando no tempo perdido ou no tempo a perder. Sabe que isso toma tempo e, principalmente, gera desgaste de energia e imobiliza.

“Certos Papalaguis dizem que nunca têm tempo: correm feito loucos de um lado para o outro com se estivessem possuídos pelo aitu (espírito malévolo)”.

O que diria Tuiávii se nos visse, hoje, 90 anos depois, aceleradíssimos, apertando botões e mais botões e parecendo que falamos sozinhos? E o que é pior: andando em círculos, pensando que estamos andando para a frente. Por vezes, tanto esforço para nada. Ou quase.

Acho que está na hora de reaprendermos a ver nosso tempo com olhos de um Tuiávii. Se o Papalagui não tem tempo é porque insiste em fatiá-lo e fragmentá-lo, sem perceber o seu todo.

(Condensado do livro "Tempo Orgânico"). 

terça-feira, 24 de julho de 2012

Orgânico é o que nos une e nos conecta


Na noite de autógrafos do livro Tempo Orgânico, no Rio de Janeiro, meu amigo Bryan Vianna me trouxe um presente surpreendente e muito especial. Um troféu de Qualidade/Excelência recebido por ele em nome do Departamento de Mass Marketing, em cuja gerência ele me sucedera, quando deixei a IBM, muitos anos atrás. Me justificou ele que, sempre achou que o mérito era muito maior da minha gestão do que da dele, ainda recente na época da premiação. Por isso, fazia questão de me dar ali a  "posse" definitiva da bela escultura. 

Aceitei com emoção o gesto generoso e simpático por parte de um bom amigo, pois me trouxe imediatamente a lembrança da maravilhosa equipe que compunha o Departamento.

Era um grupo muito heterogêneo que conseguiu resolver uma questão crítica de interdependência funcional entre seus membros com um notável espírito de cooperação e integração entre as pessoas.  O somatório de partes correlatas, mas dispares (como eventos -feiras, convenções- e promoções, publicidade de produto, data base management e marketing direto, geração de conteúdos para publicações internas e externas, e outras atividades) conseguia se tornar sempre um todo consistente. E o mais o importante: a gente se divertia muito com tudo aquilo. 

A reminiscência me trouxe também à mente um dos pontos chaves do livro: 
   
"Orgânico é o que nos une e nos conecta"

Aproveito, então,  para dedicar o troféu ao Carvalhal, Areias, Márcio, Ângelo, Adélia, Márcia, Israel, Olsen, e os demais companheiros daquele grupo. E confesso: tenho muita saudade de vocês!  

Bryan: mais uma vez muito obrigado pelo gesto e pela belíssima surpresa!

domingo, 15 de julho de 2012

Ritmos inspiram mudanças na nossa vida

Uma boa maneira de se repensar os hábitos e de se reinventar é através da observação dos ciclos e ritmos da natureza. E o melhor paralelo que conheço com os ritmos da vida é a música. Como comenta o compositor, arranjador e professor Júlio Costa: “afinal, música pode influenciar um estado de espírito, gerar emoções, inspirar, ser companheira, ser trilha sonora da vida, enfim, refletir sentimentos como os que estão presentes em qualquer situação do nosso cotidiano”. Música é capaz de nos fazer chorar, nos traz saudades, nos enleva, nos põe para dançar, nos faz rir, nos relaxa, nos ajuda a rezar e é a companheira ideal das nossas paixões. Ela acentua cada um desses estados emocionais, não é mesmo?

Música é ainda motivo de encontros e de compartilhamento de emoções com os outros, e até mesmo de celebração conjunta, num show, num concerto ou simplesmente cantarolando entre amigos, com um violão ao fundo. Música está também presente nos sons da natureza, se harmonizando em composições surpreendentes. Música é orgânica e é sustentável.

Quem conhece música é familiarizado com o conceito de “Tempo”. É a notação que o compositor faz na partitura ao compor, para indicar ao intérprete que for executá-la, além da velocidade e pul- sação rítmicas, a atmosfera que ele imaginou para aquela peça.  Este “Tempo” tem seu andamento – do mais lento ao mais rápido – definido por um grupo de palavras colocadas no início da parti- tura: Grave, Largo, Larghetto, Adagio, Adagietto, Andante, Andantino, Allegretto, Allegro, Vivace, Presto, Prestíssimo.

Além da questão da velocidade, há também um outro elemento, mais subjetivo, mas também de grande importância. São as palavras de expressão, utilizadas em pontos específicos da partitura, indicando o espírito ideal para execução daquele trecho: appasionato, assai, brillante, ben marcato, cantabile, comodo, con brio, con fuoco, con spirito, com moto, enérgico, giusto, giocoso, grazioso, ma non troppo, maestoso, risoluto, scherzando, semplice, sostenuto, spirituoso, tranquilo, vivo. Quem nunca ouviu a clássica combinação das palavras: Allegro/ ma no troppo (Alegre, mas não demasiado)?

Quando se presta atenção ao significado das palavras de expressão, é inevitável a analogia dos fortes adjetivos com os estados emocionais que podemos ter em nossos momentos na vida. Os paralelos que podem ser feitos são muitos, e as perguntas abaixo servem para ilustrá-los

– O que queremos expressar na nossa vida (o todo e cada uma de suas partes)?
– Que velocidade – ou velocidades – devemos imprimir ao nosso cotidiano?
– Que sentimentos desejamos para esta “composição” diária, bem como para os inevitáveis improvisos, em muitas das horas?
– Quem, afinal, deve ser o “compositor” da sua vida? Você ou as demandas externas?
– Quem deve fazer as escolhas do andamento que melhor se ajusta aos seus objetivos, necessidades e prazeres?

Que tal passar uma tarde Adagio / scherzando (lenta, desacelerada/brincando)? Será, por certo, uma tarde feliz.

Em suma, o Tempo Orgânico é aquele em que a modulação é essencial. A cadência da vida não pode ser uma só; não é produtivo nem agradável que seja assim. A emoção de viver é tão relevante
quanto a emoção que a música nos desperta. E o melhor disso tudo é que nós somos os grandes autores, arranjadores, regentes e executores desta partitura.

(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)

Fonte da ilustração http://quandosobraumtempo.blogspot.com.br/2010/09/decisoes-musicais.html

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os relógios que a natureza nos deu

Uma vez, um taxista comentou comigo que um tio dele, no Ceará, sem nunca usar relógios, sabia sempre a hora certa.
– “A margem de erro dele era menor do que dois minutos; e a gente adorava ficar perguntando a hora pra ele, para conferir. Era impressionante.”

Relógios biológicos não são prerrogativa deste tio cearense. Nossos corpos têm seus próprios relógios vivos. Esses cronômetros internos são inatos e atuam sobre a temperatura do corpo, sobre os processos químicos do organismo, sobre as atividades nervosas e sobre o metabolismo.

São dois, instalados em nossos cérebros: o relógio circadiano e o relógio de intervalo. O circadiano é bem conhecido de todos nós. Comandado pela glândula pineal e pela melatonina que ela produz, é o que nos faz dormir e nos faz acordar, às vezes minutos antes do despertador tocar, abrindo os olhos para um novo dia. Alimentado pelos ciclos diários de luz e escuridão, este é o nosso relógio das 24 horas.

O relógio de intervalo é completamente diferente. Pode operar em frações de segundo, quando, por exemplo, nos ajuda a calcular, inconscientemente, a velocidade em que temos de correr para conseguir chutar uma bola em movimento; ou nos ajudar a nos situar em intervalos de tempo maiores nas nossas atividades cotidianas. Ao contrário do circadiano, relativamente preciso, os relógios de intervalo podem ser afetados por fatores bioquímicos (como a adrenalina, por exemplo) que alteram nossa percepção subjetiva do tempo: um momento feliz pode parecer rápido demais e uma atividade desinteressante pode parecer uma eternidade.

Ritmos e ciclos fazem, enfim, parte indissolúvel da nossa existência. Basta acompanharmos as batidas do nosso coração ou observarmos o compasso da nossa respiração para constatarmos este verdadeiro milagre, que permite o funcionamento de todo o nosso organismo, como um mecanismo de relojoaria.

Enquanto dormimos, células de grande parte de nosso corpo se regeneram, e se renovam. A cada 28 dias – ou próximo disso – as mulheres reciclam sua “usina” de procriação, no seu ciclo menstrual, criando assim as condições básicas para que nossa espécie continue se perpetuando. À nossa volta, não é diferente. Enquanto a terra gira em torno de si mesma e nos conduz na sua permanente viagem de translação ao redor do sol, a natureza vai experimentando a sucessão das estações, o ritmo das marés, tudo afetando a vida em todo o planeta.

Enfim, todos estes mecanismos internos e externos contribuem para nossa habilidade inata de se relacionar com o tempo, que independe dos relógios e da tecnologia ao qual nos escravizamos. Será que estamos conscientes e tomando partido destas habilidades? Encontrar uma nova relação com o uso do tempo pode de fato nos reaproximar e reconectar com a natureza.

(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)
 

Fonte da ilustração: http://franciscotrindade.blogspot.com.br/2010/09/olho-de-relogio.html

segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Não tenho tempo pra nada”


Esta é uma reclamação generalizada, especialmente de quem vive nos grandes centros urbanos (ou seja, mais de 70% da população). Mas, com todo respeito, discordo dessa afirmativa, que é quase um mantra, repetido por tanta gente. Primeiro, porque me parece uma injustiça que as pessoas fazem consigo mesmas, já que elas nunca fizeram tanta coisa como agora. Nunca se produziu tanto, nesse estrato da sociedade economicamente ativo, que é justamente o que mais se queixa. Mais do que isso, a “vida moderna” nos empurra a usar cada um dos preciosos minutos e segundos para justamente “fazer” alguma coisa. Qualquer coisa. Ninguém quer – e nem acha que pode - ficar parado que se sente logo ansioso, como se estivesse desperdiçando sua vida.

Enfim, as pessoas estão fazendo MUITA coisa, especialmente com a ajuda de equipamentos digitais e conexões de alta velocidade. Trabalhamos, namoramos, educamos, cuidamos da casa, contatamos amigos, malhamos, nos informamos, saímos, rezamos, damos conselhos, pesquisamos, compramos. Fazemos isso “sem ter tempo” e às vezes, “tudo” ao mesmo tempo. A questão é que estas ações todas estão pulverizadas, ou seja, são atividades, muitas vezes, de pequena, pequeníssima duração, que se sucedem sem parar e acabam não sendo “contabilizadas” por nós, gerando um sensação de que fazemos menos do que devíamos. São demandas impostas pelo sistema de vida agitado onde estamos inseridos, que alimentam nossas já altas expectativas com relação ao que deve ser realizado e, principalmente, são demandas que acabamos impondo a nós mesmos, em meio às incontáveis variáveis e tentações que nos cercam, no dia-a-dia.

A verdade é que a maioria de nós está sentindo dificuldade de ser mais seletivo nas decisões sobre o uso do seu tempo, que tomamos a cada poucos minutos, em meio a essa grande profusão de estímulos. A sensação é de que tudo à nossa volta vai se acelerando, se acelerando, sem uma perspectiva de limite para esta aceleração. E, junto com esta aceleração, vem a saturação e o stress.

               (texto extraído do livro Tempo Orgânico, por Alvaro Esteves)

Fonte da ilustração: robertamonique.blogspot.com

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Prefácio do livro Tempo Orgânico

    Por Ricardo Young 


Muito se fala sobre o Tempo.

Da poesia dos enamorados ao rigor do Deus Cronos, o Tempo permanece um mistério e encerra uma certeza: ele jamais volta, jamais retrocede, não perdoa. Na astrologia, simbolizado por Saturno representa o rigor, o compromisso, a responsabilidade... Diante do Tempo parece não haver vencedores. Até os mais corajosos se dobram e os bravos caem. Ele nos dá a dimensão exata de nossa humanidade, de nossa finitude.
No entanto o desafiamos. E ao tentarmos subjugá-lo, somos nós os subjugados por ele. Qual Prometeu e o fogo primevo, retornamos sempre ao subestimar o seu sentido e poder.
Nesse inicio do século XXI parecemos prematuramente tomados por uma nova síndrome: a síndrome do tempo (des)humano. O homem descolou-se do tempo cósmico, da pulsão da Natureza, do ritmo da vida, dos ciclos dos dias, das horas, do dia e da noite.
O Tempo, como ampulheta voraz, vai tomando de todos a energia vital e o equilíbrio psicológico. A ansiedade e o desconforto diante da vida, que parece sempre dever, vai nos transfigurando. Tornamo-nos seres estressados tentando o sucesso em uma vida que se assemelha mais ao arremedo daquilo que deveria ser.

Consultórios lotam, prontos-socorros são procurados e guias e atestados são expedidos em diagnósticos quase monocórdicos: estresse. Doença urbana dos aprendizes de feiticeiro que pensamos ser. Cremos que tudo podemos e controlamos até que as coisas saem do controle e, desesperados, não sabemos nos desfazer do feitiço que colocamos em marcha.

Sinais crescentes de desequilíbrios sistêmicos demonstram que nossa civilização está enferma. A civilização industrial, antropocêntrica e individualista que criamos está sendo desafiada pelos princípios da sustentabilidade e as consequências de nossos atos agregados estão colocando limites a esse padrão civilizatório.

Mas, ao mesmo tempo em que percebemos que alguma coisa anda errada, continuamos a "correr atrás". Pensamos que a medida de eficiência e perfeição está diretamente ligada a nossa capacidade de atender as demandas colocadas pelo chefe, pelos compromissos financeiros, pelas redes sociais, pela família. Enfim, ligada àquilo que é externo e nem sempre em harmonia com nossos desejos e necessidades. Gradativamente, sem perceber, nos tornamos escravos de uma concepção de tempo inventada por um sistema que não se sustenta.

E o "nosso" tempo pessoal, onde fica?

Todos aqueles que já experimentaram a meditação, que já fizeram retiros, se desconectaram por um período ou ficaram simplesmente em silêncio sabem quanto o tempo interno, o ritmo vital, o reencontro com o pulsar da Natureza pode ser regenerador para a alma.

Dirão alguns, "Tudo bem, mas quem pode se dar a este luxo?" E terão razão. Os luxos de nosso tempo são exatamente àqueles mais escassos: silêncio, espaço, água e ar limpos, tempo, alimentos saudáveis, saúde e ócio criativo. Mas ao contrário dos luxos tradicionais, que ao deles nos desapegar, encontramos uma contrição material, nestes sofremos a degradação da própria condição humana ao não tê-los. E pensar que os tínhamos em abundância...

Há que haver outras formas de lidar com este sofrimento agudo, típico de nossa época. Assim como a economia, a sociedade, a produção e o consumo estão sendo repensados, certamente nossa relação com o Tempo não pode ficar fora dos novos conceitos de Sociedade Sustentável.

Foi pensando nisto que Alvaro Esteves formulou, neste livro, um conceito bastante avançado e de grande utilidade. Trata-se do Tempo Orgânico. "Tempo orgânico é o cultivo consciente do agora, sem desperdícios, e sem os tóxicos da aceleração e da saturação, na construção de relações mais integradoras consigo mesmo, com os outros e com a natureza."
Não pense o leitor que esta definição é fruto de uma inspiração fortuita! Alvaro Esteves nos presenteia com uma digressão sobre o sentido do tempo através da história, das culturas, dos hábitos e na economia. Com o cuidado do artesão ele vai construindo uma tessitura tirando do lugar comum as infinitas definições e redefinições sobre o Tempo e suas mazelas. Ele compõe um novo mosaico a partir dos inúmeros fragmentos de uma análise competente sobre a evolução histórica e o sentido do Tempo em nossa civilização.

Aos poucos, ele se debruça nos novos conceitos que a sustentabilidade traz para o sentido da qualidade de vida, da relação com a Natureza, da mitigação da desigualdade e vai construindo um conceito de Tempo completamente articulado em três dimensões:

- aquilo que vem de dentro
- aquilo que nos conecta
- aquilo que está em sintonia com a Natureza

Essa definição orgânica de tempo é muito feliz, pois sintetiza a vida na sua expressão interior, na sua articulação com o meio e nos potenciais e limitações da condição natural. Será esta a concepção de Tempo que nossa cultura precisa assimilar para que nos libertemos desta síndrome?

O livro desenvolve essa tese. Não haverá liberdade se não houver integridade do ser. Liberdade de consumir, trabalhar ou acessar a internet são ilusões de liberdade, porque condicionadas. Há uma diferença brutal entre dispor e ser disposto por. Em nossa sociedade parecemos ter acesso e dispor de inúmeras facilidades que melhorariam nossas vidas. Mas no ciclo cotidiano o que acontece é o contrário. Corremos atrás. O tempo adicional que obtemos, devolvemos para a mesma ampulheta que, tal como um buraco negro, nos devora.

Há muitos livros sobre o Tempo. Todos tentando nos equipar com técnicas que tornem a nossa síndrome menos sociopata e esquizofrênica. Mas não conheço nenhum como O Tempo Orgânico, que procura fazer do aprendiz, o Mago. Àquele que evoca os poderes da Natureza não pelo exercício de sua iniciação ou pelo deslumbramento com o que pode despertar, mas pela consciência profunda do que significam estes poderes e como usá-los a seu favor, ciente de sua fragilidade. Mas também em simbiose com eles. Alvaro Esteves nos obriga a pausa e a reflexão profunda sobre o sentido e a qualidade de nossas vidas.

O Tempo Orgânico é um destes conceitos que nos ajudam a resgatar e nos reconciliar com o melhor da nossa condição humana. E mostra, dolorosamente, como a humanidade é permanentemente vitimada pela própria incapacidade de se perceber parte integrante de um processo muito maior.

Essa consciência, sim, permite a expressão plena da Vida.

Ricardo Young

Empresário, fundador e diretor da Casa Amarela, membro do Conselho de Administração da Amata S.A., do Conselho do Fundo Ethical do Banco Santander e outros Conselhos de Sustentabilidade em empresas como Fibria e Kimberly-Clark.

Foi Presidente da Associação Brasileira de Franquias e um dos fundadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que presidiu de 2005 a 2010, quando saiu para candidatar-se ao Senado.

Conferencista internacional nos temas da Gestão Sustentável, ética e liderança sistêmica.

Conselheiro e Militante da causa da sustentabilidade em diversas ONGs e na política, é um dos fundadores do Instituto Democracia e Sustentabilidade, juntamente com Marina Silva e Guilherme Leal.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O FUTURO QUE QUEREMOS ESTÁ NAS MÃOS DOS INDIVÍDUOS

Na quarta feira passada, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, deu este brado de alerta, infelizmente tardio e sem consequências, aos/às chefes de Estado presentes na Rio+20. No seu discurso, lembra que "não podemos mais nos dar ao luxo de adiar decisões". Os críticos do documento final do evento, "O Futuro que queremos" questionam o processo de "delegação" que de certa forma os governos estão implicitamente fazendo, ao se omitirem,  às empresas e corporações, para "tocar" a propalada Economia Verde. 

Coincidentemente, nestas últimas semanas, tenho feita uma "limpa" em documentos aqui de casa e encontrei, nos meus "velhos" arquivos, pastas com recortes de jornais e revistas desde o finalzinho dos anos 90, quando comecei a me aproximar do tema da então "responsabilidade social empresarial". O que me chamou a atenção, ao rever as matérias (e a publicidade de certas empresas) é que o discurso corporativo não mudou muito, recheado de promessas e de ufanismo por suas realizações, ainda que por vezes modestas, se olhadas com mais atenção. Vejo hoje muito daquelas mesmas abordagens presentes em declarações e iniciativas de comunicação.

Não defendo aqui, de forma alguma, que avanços não tenham se dado, particularmente nesses últimos dez anos, na agora chamada sustentabilidade corporativa. Seja por ações espontâneas das empresas, seja como resposta a indutores de mercado (como o índice ISE do Bovespa), seja como reação às demandas das sociedade civil, muito tem sido feito.
A questão que se coloca aqui é justamente a de tempo. Porque os processos da iniciativa privada, em geral, têm maturação mais lenta e estão sujeitas a postergações em função dos resultados de curto prazo. As empresas, em geral, não têm pressa nessas questões, a não ser que algum fator externo defina prazos e limites: políticas públicas, por exemplo.
O senso de urgência, este parece muito mais à flor da pele justamente nas organizações da sociedade civil e em muitos movimentos populares que estão nascendo a cada dia. Ou seja, nos indivíduos que se organizam. Neles está depositada a esperança de alavancagem "imediata" de políticas públicas / marcos regulatórios e nas mudanças em ritmos bem mais velozes (nada menos do que 705 compromissos voluntários foram firmados durante a Rio+20, nas agendas não governamentais).

No livro "Tempo Orgânico", o foco é justamente no tempo das pessoas. Pessoas como eu e você, que "não têm tempo pra nada", mas sabem que precisam fazer alguma coisa, não só para tornar suas vidas melhores e menos estressadas, como para encontrar formas de contribuir para que o "Futuro que queremos" esteja cada vez mais mais abrangente e, principalmente, cada vez mais próximo.  
 
Ilustração: reprodução de parte da matéria publicada em 21/06/12, no caderno especial "Rio +20" do jornal O Globo, de autoria de Eliane Oliveira, Fernanda Gogoy e Liana Mel. Foto de Nacho Doce/Reuters. 



terça-feira, 19 de junho de 2012

Afinal, queremos ser Híbridos ou Sustentáveis?


Semana passada, enquanto os tambores da Rio+20 já começavam a bater mais fortes, recebi de meu amigo Carlos Gentil Vieira o link de uma sugestiva matéria da revista Slate. Ela tratava do surgimento de que seria uma civilização humana-tecnológica. O título da matéria dá as boas vindas àquilo que os autores denominam de “Era Híbrida”( Welcome to the Hybrid Age). E o texto fala das novas maravilhas cada dia mais perto do consumo massivo.

- lentes de contato “pixeladas” para acesso a bancos de dados que geram uma “realidade aumentada”.
- dispositivos de realidade virtual que levam a extremos de perfeição o que hoje já está disponível nos vídeo games domésticos
- implantes de memória que criam sensações como se fossem reais
- produtos usando a tecnologia do touch screen (haptic), só que para sensações físicas bem mais intensas do que operar um iPad, gerando o que denominam de “Lovotics”, a intersecção do Amor (Love) (filosofia, psicologia biologia neurociência) e Robótica (inteligência artificial e engenharia)
- imagens em 3D quase como o standard por toda a parte
 - avatares com dispositivos tipo Kinect com tecnologia foto-gramática, que cria replicas digitais animadas quase perfeitas de expressões faciais
- dispositivos tipo “LifeLogging,” (gravador portátil capaz de capturar praticamente tudo que fazemos e vemos) capazes de fazer um upload de todos estes dados para um cérebro portátil auxiliar ainda mais veloz que o cérebro humano).

E o artigo segue dando vários outros exemplos que justificam o tal “híbrido” humano- tecnológico.

Ao mesmo tempo, seres humanos de quase todas as geografias do mundo, reunidos no Rio esta semana, cheios das melhores intenções, têm enorme dificuldade para chegar a acordos sobre assuntos para os quais a urgência é reconhecida por todos eles. O que estamos constatando são impasses. Impasses sobre temas que ameaçam o futuro de todas as formas de vida deste Planeta – inclusive a nossa – e o presente de milhões de pessoas que não têm acesso a itens tão básicos como água potável, alimentação mínima, saneamento, saúde. Impasses cheios de desculpas e “boas razões”.

Fico aqui com meus botões - e touchscreens - pensando como e quando estes dois universos se encontrarão. Quando estes novos seres híbridos dedicarão tempo para usar seu arsenal tecnológico para “pensar” em soluções a curto prazo para tantos problemas e, muito especialmente , lançar mão de tantas informações para se porem de acordo sobre o que precisa ser feito sem outras desculpas e sem mais delongas?

Fonte:
http://www.slate.com/articles/technology/future_tense/2012/06/hybrid_reality_avatars_robotics_and_the_coming_human_technology_civilization_.html   (By Ayesha Khanna and Parag Khanna)

Quadro de George Braque ilustra a postagem 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

PERSONAL O QUE?


Possivelmente, o primeiro serviço do tipo “personal “ de que eu tenha ouvido falar foi o professor particular: aquele contratado para dar aulas individuais a quem tinha dificuldades em alguma matéria na escola. Isso, é claro, foi MUITO antes de aparecer o personal trainer, de certa forma um precursor muito popular dos serviços pessoais que hoje estão surgindo em toda parte: personal stylist, personal chef, personal organizer, o passeador de cães, etc.

Em geral, a grande motivação para estes serviços terceirizados é a falta de tempo do contratante. Atoladas nos seus cotidianos, sempre sem “ tempo pra nada”, as pessoas acabam pedindo socorro a alguém e novas vocações e profissões são descobertas.

No livro The outsourced self (A terceirização do self), lançado nos Estados Unidos, a autora Arlie Russell Hochschild mostra a abrangência da transformação que esta ocorrendo na vida privada daquele pais, em direção a nichos de mercado cada vez diversificados. Com base em pesquisas e entrevistas tanto com os vendedores quanto compradores, Alie avalia que tudo que antes fazia parte da vida privada, especialmente no contexto das famílias – amor, amizade, cuidados com as crianças - está sendo transformado em especialidades que são empacotadas para serem vendidas a americanos um tanto atormentados.

Elas incluem desde os sofisticados serviços para se encontrar namorados(as) - onde a pessoa “é treinada para ser o CEO do seu próprio amor”(!) , a planejadores de casamento que criam a “narrativa pessoal“ dos noivos para construir a essência (do show) da cerimônia ; de “nomelogistas” (que ajudam você a dar o nome a seu filho), a especialistas em ajudar as crianças na fase de “tirar a fralda”; de “querologistas” (que assessoram a pessoa a saber melhor o que quer na hora da tomada de decisões importantes), a gente contratada para espalhar as cinzas do seu ente querido no oceano de sua preferencia, a autora nos revela um mundo em que os mais intuitivos e emocionais atos humanos estão se transformando em algo para ser contratado.

Há, inclusive exemplos que visam preencher carências emocionais que nascem da solidão de quem trabalha sem trégua , como o “Alugue um amigo” (para ir ao cinema, fazer compras, conversar ou o desconcertante Alugue uma avó (Rent a Grandma), em que uma senhora vai até sua casa para preparar um jantar com aquelas receitas de antigamente, contar historias do seu (dela) tempo e servir de interlocutor para quem tem nostalgia de reunir uma verdadeira família tradicional.

Com tantas ofertas se configurando, o perigo aqui é que o mesmo espirito consumista na compra de bens/produtos se replique na contratação de serviços pessoais.

Fonte da foto: wwp.greenwichmeantime.com

quinta-feira, 7 de junho de 2012

CACHOEIRA SABE USAR BEM O SEU TEMPO?


Ontem, um amigo aqui do blog me provocou com a pergunta que dá titulo a esta postagem.

Confessei a ele que este tipo de dúvida já havia me assaltado (!) antes. Carlinhos Cachoeira não é  o primeiro “gênio do mal” no Brasil que surpreende a todos nós com sua “produtividade”, sua enorme capacidade empreendedora e de realização de malfeitos. Há pouco mais de vinte anos, tive uma reação semelhante ao saber da extensão da rede de contatos e iniciativas criminosas do P.C. Farias nos bastidores do governo Collor.

A grande diferença entre os dois casos talvez seja a tecnologia. A equipe-bando do Cachoeira – e ele, pessoalmente – usa e abusa das ferramentas de comunicação e da tecnologia da informação para planejar e executar um “eficiente” esquema de delitos. Por outro lado, felizmente, também a tecnologia tem entrado em cena para registrar e documentar os detalhes e os envolvidos em muitos desses delitos. Os meios de comunicação diariamente nos tem revelado os tristes meandros dessas "operações".

Mas, respondendo à pergunta do amigo, uma coisa parece clara. Sob a ótica da administração do tempo tradicional, tanto os “P.C. Farias” quanto os “Cachoeiras” são pessoas que otimizam, sim, o uso do seu tempo e são capazes de lidar com muitas variáveis, situações e pessoas, buscando sempre “soluções” inovadoras para as demandas que lhe são colocadas por seus “parceiros de negócios”.

Dentro da ótica do Tempo Orgânico, entretanto, a resposta é muito diferente. Nele, a questão ética é básica, na integração das relações que a pessoa estabelece consigo mesmo, com os outros e com o ambiente que o cerca. O que estes criminosos fazem, no fundo, apesar da aparente eficiência das práticas, não tem qualquer objetivo ou consistência, além da ambição e da cobiça, não importam os meios. Não partem do reconhecimento de qualquer valor, as relações com os outros são pautadas apenas nos interesses pontuais e circunstanciais e as relações com a sociedade e o meio ambiente são simplesmente predadoras.

Se não bastasse isso, mais do que simples contraventores e criminosos, têm conspirado contra o uso do meu tempo, do seu tempo (como cidadãos que se interessam pela justiça) e do tempo das pessoas e instituições que têm se mobilizado e continuam se mobilizando para tentar (com)provar – ou cinicamente lutar para desmentir as evidências - esta rede de crimes que parece não ter fim.

Foto: www.worth1000.com

terça-feira, 29 de maio de 2012

Tributo ao Tempo

Dizem que a vida é curta, mas não é verdade.
A vida é longa... para quem consegue viver pequenas felicidades.
E essa tal felicidade anda por aí, disfarçada, como uma criança
tranqüila brincando de esconde-esconde.
Infelizmente às vezes não percebemos isso e passamos nossa existência
colecionando ‘NÃO’:
a viagem que não fizemos,
o presente que não demos,
a festa que não fomos,
o amor que não vivemos,
o perfume que não sentimos.
A vida é mais emocionante quando se é ator e não expectador,
quando se é piloto e não passageiro,
pássaro e não paisagem,
cavaleiro e não montaria.
E como ela é feita de instantes,
não pode nem deve ser medida em anos ou meses,
mas em minutos e segundos.
Esta mensagem é um tributo ao tempo.
Tanto aquele tempo que você soube aproveitar no passado quanto aquele
tempo que você não vai desperdiçar no futuro.
Porque a vida é agora.
Não tenha medo do futuro,
apenas lute e se esforce ao máximo para que ele seja do jeito que você
sempre desejou.
A morte não é a maior perda da vida.
A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.

Dalai Lama

(texto gentilmente compartilhado pela amiga e mestra Juliana Pamphili)

sábado, 24 de março de 2012

Um segredo do Chico Anysio


Certa vez, entrevistei o Chico. Foi durante a preparação do meu livro "Uma Questão de Tempo". Ele, no auge do sucesso, generosamente abriu sua agenda para uma conversa, em seu apartamento, sem qualquer pressa, já dando provas de que era um Mestre também do seu próprio tempo.

Minha maior curiosidade era entender qual o segredo por trás de sua incrível capacidade de fazer - com aquele brilhantismo - tantas atividades diferentes e dar conta daquele verdadeiro exército de personagens.

É claro que, vindo de um gênio como ele, seu segredo era fácil de entender (apesar de muito difícil de praticar).
- "Muito simples", me explicou. "Faço uma coisa de cada vez. Quando estou pintando, pinto; quando estou escrevendo, escrevo; quando estou compondo, componho; quando roteirizo, roteirizo: quando estou fazendo um personagem, me ocupo exclusivamente dele".

Ou seja, Chico estava sempre presente , de maneira plena- na atividade a que se propunha a fazer a cada momento, 100% focado, sem nunca misturar as coisas. Não ficava mentalmente especulando sobre o que tinha que fazer depois, nem se assombrava com o que vinha do passado.

Bem humorado e irreverente, me presenteou com um par de pequenos - mas poderosíssimos - exemplos, misturando a voz de um personagem com a fala típica de outro.

"Sacou o perigo? arrematou, com um olhar parecido com o da foto aí em cima. 

Foi uma lição que nunca mais esqueci. Ao rememorar esta passagem, ontem, fiquei ainda mais triste com a notícia de sua partida.  Só queria, então, dizer, mais uma vez: 

Obrigado por tudo, Chico!!!!   


sábado, 17 de março de 2012

VIDAS SUSTENTÁVEIS


Por Rosiska Darcy de Oliveira
Reproduzido do jornal O Globo - 17/03/10


O tempo é o meio ambiente impalpável onde nossa vida evolui. A relação com o tempo é, nesse sentido, uma relação ecológica, marcada no mundo contemporâneo pela poluição das horas. Todos temos relógios, mas ninguém tem tempo. Essa constatação levou o filósofo Michel Serres a propor que renunciássemos a comprar relógios e guardássemos o tempo. Afinal, na vida de cada um, o tempo é um recurso não renovável.

O paradigma da onipotência e da falta de limite, o pressuposto de energias inesgotáveis que destruiu e continua destruindo os equilíbrios da Terra, contaminou o cotidiano das pessoas e se manifesta na multiplicidade de vidas que transbordam das 24 horas do dia: trabalho, casa, viagens. Some-se a isso a bulimia da informação e o frenesi dos relacionamentos no espaço virtual, segundas vidas que permeiam o real. Mesmo se a duração da vida humana é cada vez mais longa as horas são percebidas como cada vez mais curtas.

O dia a dia nas grandes metrópoles tornou-se insustentável como modelo de consumo e também como escolhas equivocadas, que não se sustentam em se tratando de qualidade de vida. As horas passadas em engarrafamentos de pesadelo são momentos privilegiadospara pensar em como desatar os nós do tempo das cidades. Na Itália, a lei obriga cidades com mais de cem mil habitantes a criar uma Secretaria do Tempo para estudar essa variável, decisiva na relação das pessoas com o meio urbano. Resta ainda a relação ao trabalho e à família.

A concorrência no mercado global exerce uma pressão inclemente sobre as empresas que, por sua vez, pressionam quem trabalha, fixando metas e além-metas, exigindo prontidão, ubiquidade e nomadismo. Cada um é o contramestre de si mesmo, tanto mais severo quanto mais competitivo. No mundo do trabalho, o que é urgente prima sobre o importante. Nesse reino da urgência, o estresse é a regra, e a somatização, o sintoma.

Família e trabalho se tornam rivais, lealdades conflitantes. Esse foi o leitmotiv das incontáveis comemorações do Dia Internacional da Mulher. Como conciliar carreira e vida privada? A pergunta vale para mulheres e homens que trabalham a tempo integral. Crianças e idosos terão certamente muito a dizer sobre seus pais e filhos que nunca têm tempo para eles. Um sentimento de culpa, permanente, habita os jovens adultos, com duas faces, uma voltada para a família, outra para a empresa. Homenagear as mulheres é colocar na pauta da sociedade brasileira, como um valor, o direito — para mulheres e homens — a dispor de tempo para a vida privada. Em respeito à infinidade de gestos que, em todos os tempos, elas fizeram para transformar cada um de nós em seres humanos melhores do que os selvagens que somos ao nascer. Gestos que nunca mereceram registro nos livros de história da civilização ainda que tenham sido a grande aventura educativa da espécie.

As mulheres entraram no mundo do trabalho pela porta dos fundos. Transgressoras de uma lei não escrita que lhes proibia o acesso, aceitaram condições leoninas. Acataram uma dupla mensagem: aqui, trabalhe como um homem qualquer; fora daqui, continue a ser a mulher que sempre foi. Temendo a desqualificação — a família como um “defeito” feminino — tentaram dar respostas biográficas a contradições sistêmicas. O tempo elástico tornou-se insustentável.

A vida privada foi ocultada enquanto desafio social, sem que se levasse em conta sua contribuição à sociedade De difícil solução, a questão foi devolvida à intimidade dos casais. Essa ocultação, angústia diária de homens e mulheres, é um dos núcleos problemáticos da contemporaneidade.

Em tempos de Rio+20, quando a palavra sustentabilidade está em todas as bocas, ainda que definida como na fábula dos cegos e do elefante, seria oportuno criar o Clube do Rio. A exemplo do Clube de Roma que, há quarenta anos, numa reviravolta epistemológica introduziu a polêmica noção de limite ao crescimento, retomada em recente e assertivo artigo de André Lara Resende, o Clube do Rio reuniria inteligências criativas e ousadas, hoje espalhadas pelo mundo. Atento às dimensões insustentáveis do cotidiano, buscaria o equilíbrio entre o uso do tempo e as energias humanas, mobilizando ciência e imaginação para gerar uma ecologia do tempo a serviço de vidas e cidades sustentáveis.

No futuro das cidades sustentáveis tempo não será dinheiro. Nada nos condena a transformarmo-nos em um sub-Estados Unidos.

Mais uma bela oportunidade para o Rio de Janeiro: ser a matriz de um conceito de sustentabilidade balizado pelo bem viver.

 ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA é escritora. E-mail: rosiska.darcy@uol.com.br

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Gostei do Hugo Cabret!!!


Fui ver o filme. É muuuuito bom, gente. É claro que para mim tem um sabor todo especial: os relógios da estação de tem e seus lindos mecanismos prá lá de fotogênicos (que Direção de Arte!).

A mecânica, por sinal, tem uma presença importante na trama. Além do show de relógios, há o fascinante autômato que desenha (e dá pistas). Mas são as emoções dos personagens que vão, aos poucos, fazendo as "peças" se encaixarem, como um relojinho, trazendo das cinzas do esquecimento o maravilhoso universo de Georges Méliès.

Mágico (literalmente), inventivo, divertido, Méliès fazia, na pré-história do cinema, o que ele tem de melhor: a fantasia  e a ímaginação se tornarem "realidade".

O mestre Scorcese nos trás um de seus melhores filmes, incorporando o espírito de Méliès, na maneira fantástica, visualmente atrevida e, sobretudo, sensível de, ao mesmo tempo, contar uma bela história e fazer uma justa homenagem.  

Recomêiindo!!!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Será que meu neto é um X-Man?


A dúvida surgiu quando vi o Lucas pegando pela primeira vez num iPhone, meses atrás. Sem qualquer instrução (apenas observava o irmão mais velho, Daniel, jogando), em poucas instantes já estava dominando o que lhe interessava. Do alto dos seus dois anos incompletos, dedinho pra cá, dedinho prá lá, via e revia os desenhos animados arquivados no aparelho.

É claro que Lucas não é um menino prodígio. Tenho visto a mesma cena se repetindo, com muitas outras crianças conhecidas nossas, algumas até mais novas. Como se explica? Será que isto tem a ver com algum processo de mutação genética que está ocorrendo rapidamente?

Leio então uma entrevista com o neurocirurgião Paulo Niemeyer que explica: “O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando”.

Ou seja, há mutações genéticas, sim e a isto se soma a incrível capacidade de nosso cérebro de se adaptar. Mas confesso que fico levemente preocupado, me perguntando até que ponto vai esta aceleração. Quais são os limites? Quais são os efeitos colaterais?

Por via das dúvidas, compro um pião de lata, daqueles coloridos que, ao girar, fazem um zumbido, para dar de presente aos meninos. Competição desigual, essa, com o sedutor mundo digital, mas não custa tentar um pequeno antídoto.  

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ORAÇÃO AO TEMPO (Bethania interpretando Caetano)


És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

Clique no link para ver o ouvir a definitiva interpretação de Maria Bethania http://www.youtube.com/watch?v=O2P1khIyTX8&feature=related

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DE QUANTO EM QUANTO TEMPO VOCÊ É INTERROMPIDO?


No ambiente típico de escritórios de empresa nós somos interrompidos , em média,  a cada 8 minutos, ou aproximadamente 6-7 vezes por hora. São cerca de 50-60 interrupções durante o dia. Aí está tudo incluido: pessoalmente ou por algum aparato de comunicação.

É o que constatou pesquisa feita pela empresa Cube Smart,Inc com base nos estudos do pesquisador finlades Franck Tétard.

A pesquisa mostra ainda que cada interrupção leva, em média, aproximadamente 5 minutos. Ou seja, se você estiver mesmo sendo interrompido 50 vezes por dia, as interrupções estarão ocupando 250 minutos, pouco mais de quatro horas , ou cerca de 50% da jornada de trabalho.

 É claro que nem toda interrupção é negativa e o estudo procurou medir isto também. Os participantes atribuiam uma avaliação para cada uma das suas interrupções: "A" = Crucial, "B" = Importante; "C" = pouco valor, e "D" = sem valor. Apenas 20% das interrupções foram julgadas como "A" ou "B", o que significa que dos 250 minutos de interrupções no dia, 80% teriam pouco ou neunhum valor: 3 horas e 20 minutos, muito possivelmente jogados no lixo.

A pesquisa mostrou outro dado igualmente preocupante: em 39% das situações, levou-se entre 5 e 15 minutos, após o final da interrupção, para se retomar o ponto em que as pessoas estavam antes de serem interrompidas.

É claro que a pesquisa foi feita nos Estados Unidos e nossos dados podem ser diferentes (se bem que meu temor é que, por aqui, o quadro seja ainda pior). Portanto, por via das dúvidas, tenha MUITO cuidado com o que vai responder quando lhe perguntarem: tem um minutinho aí?