Uma boa maneira de se repensar os hábitos e de se reinventar é através da observação dos ciclos e ritmos da natureza. E o melhor paralelo que conheço com os ritmos da vida é a música. Como comenta o compositor, arranjador e professor Júlio Costa: “afinal, música pode influenciar um estado de espírito, gerar emoções, inspirar, ser companheira, ser trilha sonora da vida, enfim, refletir sentimentos como os que estão presentes em qualquer situação do nosso cotidiano”. Música é capaz de nos fazer chorar, nos traz saudades, nos enleva, nos põe para dançar, nos faz rir, nos relaxa, nos ajuda a rezar e é a companheira ideal das nossas paixões. Ela acentua cada um desses estados emocionais, não é mesmo?
Música é ainda motivo de encontros e de compartilhamento de emoções com os outros, e até mesmo de celebração conjunta, num show, num concerto ou simplesmente cantarolando entre amigos, com um violão ao fundo. Música está também presente nos sons da natureza, se harmonizando em composições surpreendentes. Música é orgânica e é sustentável.
Quem conhece música é familiarizado com o conceito de “Tempo”. É a notação que o compositor faz na partitura ao compor, para indicar ao intérprete que for executá-la, além da velocidade e pul- sação rítmicas, a atmosfera que ele imaginou para aquela peça. Este “Tempo” tem seu andamento – do mais lento ao mais rápido – definido por um grupo de palavras colocadas no início da parti- tura: Grave, Largo, Larghetto, Adagio, Adagietto, Andante, Andantino, Allegretto, Allegro, Vivace, Presto, Prestíssimo.
Além da questão da velocidade, há também um outro elemento, mais subjetivo, mas também de grande importância. São as palavras de expressão, utilizadas em pontos específicos da partitura, indicando o espírito ideal para execução daquele trecho: appasionato, assai, brillante, ben marcato, cantabile, comodo, con brio, con fuoco, con spirito, com moto, enérgico, giusto, giocoso, grazioso, ma non troppo, maestoso, risoluto, scherzando, semplice, sostenuto, spirituoso, tranquilo, vivo. Quem nunca ouviu a clássica combinação das palavras: Allegro/ ma no troppo (Alegre, mas não demasiado)?
Quando se presta atenção ao significado das palavras de expressão, é inevitável a analogia dos fortes adjetivos com os estados emocionais que podemos ter em nossos momentos na vida. Os paralelos que podem ser feitos são muitos, e as perguntas abaixo servem para ilustrá-los
– O que queremos expressar na nossa vida (o todo e cada uma de suas partes)?
– Que velocidade – ou velocidades – devemos imprimir ao nosso cotidiano?
– Que sentimentos desejamos para esta “composição” diária, bem como para os inevitáveis improvisos, em muitas das horas?
– Quem, afinal, deve ser o “compositor” da sua vida? Você ou as demandas externas?
– Quem deve fazer as escolhas do andamento que melhor se ajusta aos seus objetivos, necessidades e prazeres?
Que tal passar uma tarde Adagio / scherzando (lenta, desacelerada/brincando)? Será, por certo, uma tarde feliz.
Em suma, o Tempo Orgânico é aquele em que a modulação é essencial. A cadência da vida não pode ser uma só; não é produtivo nem agradável que seja assim. A emoção de viver é tão relevante
quanto a emoção que a música nos desperta. E o melhor disso tudo é que nós somos os grandes autores, arranjadores, regentes e executores desta partitura.
(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)
Fonte da ilustração http://quandosobraumtempo.blogspot.com.br/2010/09/decisoes-musicais.html
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