Esta é uma reclamação generalizada, especialmente de quem vive nos grandes centros urbanos (ou seja, mais de 70% da população). Mas, com todo respeito, discordo dessa afirmativa, que é quase um mantra, repetido por tanta gente. Primeiro, porque me parece uma injustiça que as pessoas fazem consigo mesmas, já que elas nunca fizeram tanta coisa como agora. Nunca se produziu tanto, nesse estrato da sociedade economicamente ativo, que é justamente o que mais se queixa. Mais do que isso, a “vida moderna” nos empurra a usar cada um dos preciosos minutos e segundos para justamente “fazer” alguma coisa. Qualquer coisa. Ninguém quer – e nem acha que pode - ficar parado que se sente logo ansioso, como se estivesse desperdiçando sua vida.
Enfim, as pessoas estão fazendo MUITA coisa, especialmente com a ajuda de equipamentos digitais e conexões de alta velocidade. Trabalhamos, namoramos, educamos, cuidamos da casa, contatamos amigos, malhamos, nos informamos, saímos, rezamos, damos conselhos, pesquisamos, compramos. Fazemos isso “sem ter tempo” e às vezes, “tudo” ao mesmo tempo. A questão é que estas ações todas estão pulverizadas, ou seja, são atividades, muitas vezes, de pequena, pequeníssima duração, que se sucedem sem parar e acabam não sendo “contabilizadas” por nós, gerando um sensação de que fazemos menos do que devíamos. São demandas impostas pelo sistema de vida agitado onde estamos inseridos, que alimentam nossas já altas expectativas com relação ao que deve ser realizado e, principalmente, são demandas que acabamos impondo a nós mesmos, em meio às incontáveis variáveis e tentações que nos cercam, no dia-a-dia.
A verdade é que a maioria de nós está sentindo dificuldade de ser mais seletivo nas decisões sobre o uso do seu tempo, que tomamos a cada poucos minutos, em meio a essa grande profusão de estímulos. A sensação é de que tudo à nossa volta vai se acelerando, se acelerando, sem uma perspectiva de limite para esta aceleração. E, junto com esta aceleração, vem a saturação e o stress.
(texto extraído do livro Tempo Orgânico, por Alvaro Esteves)
Fonte da ilustração: robertamonique.blogspot.com
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