domingo, 6 de julho de 2014

A estranha árvore que salvou minha vida (ou “Os perigos das auto avaliações”)

O dia estava lindo, na ciclovia da Lagoa. Ali perto do Parque dos Patins, vejo o sobe desce dos helicópteros e me lembrei que por pouco não tinha sido piloto dessas incríveis máquinas.

Era ainda o tempo de jovem tenente na Marinha. Leio o aviso de que as inscrições para o curso de piloto de helicóptero estavam abertas e me registrei no mesmo dia. Além da ideia fascinante de voar, ainda havia o bonus de uma formação de quase dois anos ser feita nos Estados Unidos. Imperdível.

Todos sabíamos que era um processo de seleção muito difícil, que tinha três etapas:

- Exames médicos (vista e ouvido, em particular, extremamente rigorosos)
- Exames de coordenação motora, talvez a parte mais difícil e supreendente (nunca tinha passado por nada parecido)
- Teste psicotécnico

Nas duas primeiras etapas, fui maravilhosamente bem. Tinha tido feed backs muito positivos e estava, portanto, já me sentindo um piloto. Fui fazer o psicotécnico apenas para “cumprir” agenda e saí dele com a serenidade dos vitoriosos por antecipação.

Dias depois, sou chamado por um dos psicólogos para me dar a notícia: tinha sido...reprovado. Segundo ele, minha personalidade indicava uma mente muito aberta e dispersiva, incompatível com a função.

- O primeiro pássaro raro e colorido que aparecer vai desviar sua atenção do que está fazendo e o helicóptero cai”, me sintetizou ele.

Muito nervoso, revoltado, quase perdendo o controle, perguntei como ele tinha chegado àquele resultado.

- Vários indicadores mostram isso. Mas o mais evidente talvez seja... a árvore que você desenhou. Veja aqui... E começou a me dar explicações técnicas às quais, confesso, não prestei a menor atenção. Estava ainda sob o “choque” do veredicto. Virei as costas e sai de maneira descortês e deselegante.

Hoje sou profundamente grato àquele psicólogo. Ele salvou minha vida. Por que?

A experiência me mostrou que sou de fato um espírito inquieto, sempre buscando novidades, muitas vezes me interessando pelos pássaros “passantes” e desviando meu foco para eles. Provavelmente, teria caído com alguma aeronave da Marinha.

Esta vivência me ensinou que muitas das nossas “certezas” sobre nós mesmos podem estar completamente equivocadas. Tenhamos cuidado.

Curiosidade: hoje esses testes não são muito utilizados e na web você encontra muitas dicas sobre como faze-los. Por exemplo, neste link aqui: http://pt.slideshare.net/rayssa2/testes-psicotecnicos

Fonte da imagem: http://ritualdoalimento.blogspot.com.br/2013_05_01_archive.html