segunda-feira, 27 de junho de 2011

Linha de passe: Interdependência e diversidade à beira mar

Sabe aquela espécie de futevôlei que se joga numa roda de amigos ou conhecidos, onde só não vale pegar a bola com a mão, nem deixá-la cair no chão? É a chamada linha de passe, que não deve ser nada fácil jogar. Mas, uma vez vencida esta barreira, é um tipo de atividade que valoriza a cooperação – no lugar da competição e reconhece a interdependência.

Dia desses, testemunhei uma situação exemplar, na beira da praia do Leblon. Cinco rapazes, típicos da zona sul, batiam sua bola quando chegam duas conhecidas. Beijinho pra lá, beijinho prá cá e... elas entram também na roda. E de igual para igual, em habilidade. A roda ficou ainda mais animada.

De repente, alguém erra e a bola escapa. E vai exatamente na direção de um até então pacato observador, sentado na areia, poucos metros adiante: meia idade, meio barrigudo, bermudão largo de tecido desgastado, deselegante, jeitão humilde, enfim, de outra “tribo”. Ele se levanta rapidamente e recebe a bola com uma embaixadinha, antes de devolvê-la “redonda, redonda”, facilitando o reinício da roda. Uma das meninas cabeceia a bola de volta , uma senha de que era bem vindo. Meio sem jeito, no início, chega a errar um toque.

Mas logo fica à vontade e começa é a “incendiar o grupo”. Cabeça, joelhos, ombros, lateral do pé, trivela, peito do pé, calcanhar, tudo é usado por ele de maneira criativa e diferente, inspirando e estimulando cada um dos outros. A bola agora raramente cai e a alegria era passá-la ao outro, da forma mais original, mas sempre facilitando a próxima jogada. Terminaram todos dando um mergulho no mar, ainda curtindo aquilo tudo. O visitante não quis aceitar o convite – bem acolhedor, por sinal - para tomar uma cerveja com o grupo, no trailer ali próximo. Alegou que tinha horário, se despediu de cada um com um aperto de mão, e foi caminhando pela areia na direção de Ipanema. Um dos rapazes foi sincero ao lhe dizer, no final:
- “Aparece aí, amigo, a gente tá sempre batendo um bola por aqui”.

Fiquei pensando que, outro fator se somara à cooperação e ao sentido de interdependência daquela linha de passe: o respeito à diversidade – de gênero, com as meninas - e de idade e classe social, no caso do convidado especial. Uma bela lição.

Obs: A ilustração deste Post é cena do premiado longa metragem "Linha de Passe" (2008) co-dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas.

"Linha de Passe" é também nome de música de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio. Clique aqui para assistir uma eletrizante performance dela, por João Bosco e Hamilton de Holanda.

domingo, 26 de junho de 2011

Da série "Você está cansado de saber, mas nem sempre se lembra": Listas do que fazer (“to do lists”)

Ninguém deixa de listar o que tem que fazer. Especialmente, num momento em que há cada vez mais coisas despertando nosso interesse ou nos pressionando.
Como uma espécie de “gremlims” (Lembra deles?) não param de se multiplicar, de maneira assustadora. A gente vai listando, anotando, escrevendo, digitando.
Bom, e daí? A primeira providência é relaxar. Você não vai nunca conseguir fazer todas as coisas que passam pela sua cabeça ou que parecem possíveis de serem feitas. Não adianta: vai ter de fazer escolhas, o tempo todo.
Alguns lembretes:
- É fundamental usar um “cartão vermelho”, como um bom “juiz”, para não deixar nem entrar na lista aquilo que parece “suspeito. Ou seja, o que não é urgente, não é importante, e que você sabe que é apenas levemente desejável, deve ser tratado com rigor. Quanto menos inflada a lista, melhor.
- Depois: não trate todos os itens da lista como se fossem iguais. Eles não são. Então, diariamente (sim, diariamente) analise sua Lista e extraia dela não mais do que 6 (seis) itens. Será seu Menu do Dia.
- O que é urgente vai, logo, logo, tocar sirene no seu ouvido. A grande questão é identificar, para entrar no Menu, aquilo que é importante, o que, de fato, tem relação com suas metas, seus sonhos. Garanta que alguns desses itens passem para o seu pequeno cardápio, levando em conta você com você mesmo, você e os outros e você e o ambiente que o cerca.
- Pode ser uma pequena folha de papel,um post it; pode ser uma função do seu smartphone ou de seu computador. Não importa O que é chave é deixar este Menu sempre à vista, ao longo do dia.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Trem das Onze em três tempos


Trem das Onze, composta por Adoniran Barbosa, está fazendo 50 anos e é um dos meus exemplos preferidos de músicas que falam do Tempo. Ou melhor, da falta dele. E nos dá também uma verdadeira lição sobre a arte de dizer "Não". Trago aqui três versões completamente diferentes:

Gal Costa e o grupo Demônios da Garoa, fazem uma leitura tradicional - e festiva- no raríssimo registro do programa Som Brasil, comemorando o aniversário de São Paulo em 1994. Clique aqui.

Maria Gadu traz uma roupagem moderna e intimista da canção. Clique aqui.

E a cantora Roane Ballmant nos brinda com uma surpreendente e gostosa versão em francês, numa levada à la jazz de New Orleans. Clique aqui.


domingo, 12 de junho de 2011

Namoro devagar

A tradução é péssima, cá entre nós. O substantivo “namoro” junto com o adjetivo “devagar” ficou parecendo algo insosso, chato, sem graça, provavelmente com os dias contados para acabar. A ideia não era essa. Era aproveitar o dia dos namorados para fazer um paralelo com o Movimento Slow (Devagar). Aquele que começou com o “slow food” na Itália e já inspira um monte de outras iniciativas bem interessantes em diversos países: as slow cities (as “cidades do bem viver”), slow health (saúde), slow work (trabalho), slow sex, slow schooling (educação).

Será que faria sentido falarmos de slow dating?

Pergunto isso porque o que ouço falar é que todo mundo anda com muita pressa, últimamente. Não por acaso, “ficar”, aparentemente é um verbo que veio pra ficar. Ficar na vida de quem é “onisciente” (com a ajuda do Google& friends) e onipresente (dentro das redes sociais) e não tem tempo a perder. Tudo bem. Mas, e o namoro? Sim, porque namorar, ao que tudo indica, ainda não caiu em desuso, não, mesmo em meio a este corre-corre que assola nossas vidas. Está aí pelas ruas da cidade, pelos bares e restaurantes, pelos cinemas, nas portas das escolas, nos parques, praças e praias. E o que é melhor. Olhando assim, de uma certa distância, parece que na hora do namoro ninguém está com pressa. Seja hoje, dia dos namorados, seja qualquer outro dia. A conclusão é simples: slow dating é redundância. O namoro... é slow!!

sábado, 11 de junho de 2011

Quero um vitalógio de presente

Não sou exatamente contra relógios. Não gosto é de ser escravo deles.

Quando precisamos estar em sincronismo com os outros é um ótimo aliado. Ajuda a chegar na reunião na hora marcada ou entrar no cinema antes do filme começar. No relacionamento de cada um consigo mesmo, também ajuda a nos situarmos melhor em que ponto estamos, em relação a algo que temos que fazer; ou em relação ao dia como um todo. A questão é que este situar é apenas quantitativo e com, freqüência, fonte de estresse e de angustia diante da perspectiva do “atrasar” ou da sensação de que “não vai dar”.

Não tem um equivalente ao relógio que sirva para aferir onde estou qualitativamente em relação a mim mesmo, ou como estou em relação às minhas relações (prazerosas e necessárias) com os outros e com o ambiente que me cerca. A palavra relógio é originária do grego "horológion", a composição "hora" + “lego”(dizer), literalmente, “o que diz as horas”. Acho que está mais do que na hora de se inventar um “vitalógio”, algo que nos guie pela vida de uma maneira mais orgânica, nos dizendo a cada instante onde estamos no caminho da felicidade. Já imaginaram?