A entrevista abaixo foi dada à Gisele Eberspacher, da Revista Atitude Sustentável.
Atitude Sustentável: De maneira resumida, como o tempo se relaciona com a sustentabilidade?
Alvaro Esteves: O fato é que nos tornamos escravos de uma concepção de tempo que não se sustenta mais, e contribuímos, com nosso estilo de vida acelerado e nossa avidez por mais informações e mais opções de consumo, para impactar e ameaçar o ambiente natural e social onde vivemos.
Assim como a economia, a sociedade, a produção e o consumo estão sendo repensados, nossa relação com o Tempo não pode ficar fora dos novos conceitos de Sociedade Sustentável. E há muitas questões aí relacionadas com o tempo, como a simplicidade, novas maneiras compartilhadas de se lidar com a interdependência, e as lições dos ritmos e ciclos da natureza.
Atitude Sustentável: Quando e como esse tema começou a ser uma preocupação na sua vida?
Alvaro Esteves: Com o uso do tempo, a relação é antiga. Em 1993 comecei a conduzir cursos sobre gestão eficaz do tempo e logo em seguida escrevi o livro “Uma questão de tempo”, que tinha aquele foco. Desde 2003, com a criação da Ekobé, empresa de consultoria em sustentabilidade corporativa da qual sou sócio, vinha tendo a oportunidade de refletir sobre a correlação entre aspectos da temporalidade e as questões socioambientais com as quais lidava pessoal e profissionalmente. Há uns três anos, surgiu o conceito de Tempo Orgânico.
Atitude Sustentável: Como você vê que uma maior organização do tempo pode tornar nossas cidades mais sustentáveis?
Alvaro Esteves: Primeiro, há a perspectiva individual do tempo, ou seja qual a contribuição que cada um de nós pode dar para as questões básicas como energia, água, postura e prática de descarte/lixos . Que tempo dedicamos a cada uma desses aspectos e onde o tempo entra neles (um exemplo simples: tempo de um banho)? Há a importantíssima questão da mobilidade, em parte relacionada com algumas decisões nossas do tipo: como quero/posso me descolocar na cidade; quais os limites das negociações sobre trabalhar em casa (home office) ou trabalhar mais perto de casa? Ora economizando tempo, ora investindo tempo de maneira mais criativa, podemos sempre procurar reduzir os nossos impactos.
Depois, há uma perspectiva de como estamos sendo capazes de compartilhar nosso tempo, produtivo ou de lazer, com outras pessoas, incluindo aí o que dedicamos a aprender novas práticas ou debater/encaminhar novas propostas que devem ser transformadas em políticas públicas na área de sustentabilidade urbana.
Atitude Sustentável: De que maneira as pessoas podem melhorar a questão do tempo?
Alvaro Esteves: O que estamos propondo é uma reflexão profunda sobre como e porque estamos fazendo as coisas. A tecnologia nos torna mais eficientes em várias atividades, mas ao mesmo tempo nos traz expectativas exageradas. Achamos que podemos ter acesso a muito mais informações, coisas, desejos e pessoas do que somos capazes, gerando estresse e, paradoxalmente, ameaçando, ao mesmo tempo nossa eficácia e nosso sentido de realização. O Tempo Orgânico propõe novas relações do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com a natureza, na forma de usar o tempo.
Ref: http://atitudesustentavel.uol.com.br/blog/2012/07/17/tempo-organico-e-sustentabilidade/
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