terça-feira, 24 de julho de 2012

Orgânico é o que nos une e nos conecta


Na noite de autógrafos do livro Tempo Orgânico, no Rio de Janeiro, meu amigo Bryan Vianna me trouxe um presente surpreendente e muito especial. Um troféu de Qualidade/Excelência recebido por ele em nome do Departamento de Mass Marketing, em cuja gerência ele me sucedera, quando deixei a IBM, muitos anos atrás. Me justificou ele que, sempre achou que o mérito era muito maior da minha gestão do que da dele, ainda recente na época da premiação. Por isso, fazia questão de me dar ali a  "posse" definitiva da bela escultura. 

Aceitei com emoção o gesto generoso e simpático por parte de um bom amigo, pois me trouxe imediatamente a lembrança da maravilhosa equipe que compunha o Departamento.

Era um grupo muito heterogêneo que conseguiu resolver uma questão crítica de interdependência funcional entre seus membros com um notável espírito de cooperação e integração entre as pessoas.  O somatório de partes correlatas, mas dispares (como eventos -feiras, convenções- e promoções, publicidade de produto, data base management e marketing direto, geração de conteúdos para publicações internas e externas, e outras atividades) conseguia se tornar sempre um todo consistente. E o mais o importante: a gente se divertia muito com tudo aquilo. 

A reminiscência me trouxe também à mente um dos pontos chaves do livro: 
   
"Orgânico é o que nos une e nos conecta"

Aproveito, então,  para dedicar o troféu ao Carvalhal, Areias, Márcio, Ângelo, Adélia, Márcia, Israel, Olsen, e os demais companheiros daquele grupo. E confesso: tenho muita saudade de vocês!  

Bryan: mais uma vez muito obrigado pelo gesto e pela belíssima surpresa!

domingo, 15 de julho de 2012

Ritmos inspiram mudanças na nossa vida

Uma boa maneira de se repensar os hábitos e de se reinventar é através da observação dos ciclos e ritmos da natureza. E o melhor paralelo que conheço com os ritmos da vida é a música. Como comenta o compositor, arranjador e professor Júlio Costa: “afinal, música pode influenciar um estado de espírito, gerar emoções, inspirar, ser companheira, ser trilha sonora da vida, enfim, refletir sentimentos como os que estão presentes em qualquer situação do nosso cotidiano”. Música é capaz de nos fazer chorar, nos traz saudades, nos enleva, nos põe para dançar, nos faz rir, nos relaxa, nos ajuda a rezar e é a companheira ideal das nossas paixões. Ela acentua cada um desses estados emocionais, não é mesmo?

Música é ainda motivo de encontros e de compartilhamento de emoções com os outros, e até mesmo de celebração conjunta, num show, num concerto ou simplesmente cantarolando entre amigos, com um violão ao fundo. Música está também presente nos sons da natureza, se harmonizando em composições surpreendentes. Música é orgânica e é sustentável.

Quem conhece música é familiarizado com o conceito de “Tempo”. É a notação que o compositor faz na partitura ao compor, para indicar ao intérprete que for executá-la, além da velocidade e pul- sação rítmicas, a atmosfera que ele imaginou para aquela peça.  Este “Tempo” tem seu andamento – do mais lento ao mais rápido – definido por um grupo de palavras colocadas no início da parti- tura: Grave, Largo, Larghetto, Adagio, Adagietto, Andante, Andantino, Allegretto, Allegro, Vivace, Presto, Prestíssimo.

Além da questão da velocidade, há também um outro elemento, mais subjetivo, mas também de grande importância. São as palavras de expressão, utilizadas em pontos específicos da partitura, indicando o espírito ideal para execução daquele trecho: appasionato, assai, brillante, ben marcato, cantabile, comodo, con brio, con fuoco, con spirito, com moto, enérgico, giusto, giocoso, grazioso, ma non troppo, maestoso, risoluto, scherzando, semplice, sostenuto, spirituoso, tranquilo, vivo. Quem nunca ouviu a clássica combinação das palavras: Allegro/ ma no troppo (Alegre, mas não demasiado)?

Quando se presta atenção ao significado das palavras de expressão, é inevitável a analogia dos fortes adjetivos com os estados emocionais que podemos ter em nossos momentos na vida. Os paralelos que podem ser feitos são muitos, e as perguntas abaixo servem para ilustrá-los

– O que queremos expressar na nossa vida (o todo e cada uma de suas partes)?
– Que velocidade – ou velocidades – devemos imprimir ao nosso cotidiano?
– Que sentimentos desejamos para esta “composição” diária, bem como para os inevitáveis improvisos, em muitas das horas?
– Quem, afinal, deve ser o “compositor” da sua vida? Você ou as demandas externas?
– Quem deve fazer as escolhas do andamento que melhor se ajusta aos seus objetivos, necessidades e prazeres?

Que tal passar uma tarde Adagio / scherzando (lenta, desacelerada/brincando)? Será, por certo, uma tarde feliz.

Em suma, o Tempo Orgânico é aquele em que a modulação é essencial. A cadência da vida não pode ser uma só; não é produtivo nem agradável que seja assim. A emoção de viver é tão relevante
quanto a emoção que a música nos desperta. E o melhor disso tudo é que nós somos os grandes autores, arranjadores, regentes e executores desta partitura.

(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)

Fonte da ilustração http://quandosobraumtempo.blogspot.com.br/2010/09/decisoes-musicais.html

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os relógios que a natureza nos deu

Uma vez, um taxista comentou comigo que um tio dele, no Ceará, sem nunca usar relógios, sabia sempre a hora certa.
– “A margem de erro dele era menor do que dois minutos; e a gente adorava ficar perguntando a hora pra ele, para conferir. Era impressionante.”

Relógios biológicos não são prerrogativa deste tio cearense. Nossos corpos têm seus próprios relógios vivos. Esses cronômetros internos são inatos e atuam sobre a temperatura do corpo, sobre os processos químicos do organismo, sobre as atividades nervosas e sobre o metabolismo.

São dois, instalados em nossos cérebros: o relógio circadiano e o relógio de intervalo. O circadiano é bem conhecido de todos nós. Comandado pela glândula pineal e pela melatonina que ela produz, é o que nos faz dormir e nos faz acordar, às vezes minutos antes do despertador tocar, abrindo os olhos para um novo dia. Alimentado pelos ciclos diários de luz e escuridão, este é o nosso relógio das 24 horas.

O relógio de intervalo é completamente diferente. Pode operar em frações de segundo, quando, por exemplo, nos ajuda a calcular, inconscientemente, a velocidade em que temos de correr para conseguir chutar uma bola em movimento; ou nos ajudar a nos situar em intervalos de tempo maiores nas nossas atividades cotidianas. Ao contrário do circadiano, relativamente preciso, os relógios de intervalo podem ser afetados por fatores bioquímicos (como a adrenalina, por exemplo) que alteram nossa percepção subjetiva do tempo: um momento feliz pode parecer rápido demais e uma atividade desinteressante pode parecer uma eternidade.

Ritmos e ciclos fazem, enfim, parte indissolúvel da nossa existência. Basta acompanharmos as batidas do nosso coração ou observarmos o compasso da nossa respiração para constatarmos este verdadeiro milagre, que permite o funcionamento de todo o nosso organismo, como um mecanismo de relojoaria.

Enquanto dormimos, células de grande parte de nosso corpo se regeneram, e se renovam. A cada 28 dias – ou próximo disso – as mulheres reciclam sua “usina” de procriação, no seu ciclo menstrual, criando assim as condições básicas para que nossa espécie continue se perpetuando. À nossa volta, não é diferente. Enquanto a terra gira em torno de si mesma e nos conduz na sua permanente viagem de translação ao redor do sol, a natureza vai experimentando a sucessão das estações, o ritmo das marés, tudo afetando a vida em todo o planeta.

Enfim, todos estes mecanismos internos e externos contribuem para nossa habilidade inata de se relacionar com o tempo, que independe dos relógios e da tecnologia ao qual nos escravizamos. Será que estamos conscientes e tomando partido destas habilidades? Encontrar uma nova relação com o uso do tempo pode de fato nos reaproximar e reconectar com a natureza.

(Texto extraído e adaptado do Livro Tempo Orgânico)
 

Fonte da ilustração: http://franciscotrindade.blogspot.com.br/2010/09/olho-de-relogio.html

segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Não tenho tempo pra nada”


Esta é uma reclamação generalizada, especialmente de quem vive nos grandes centros urbanos (ou seja, mais de 70% da população). Mas, com todo respeito, discordo dessa afirmativa, que é quase um mantra, repetido por tanta gente. Primeiro, porque me parece uma injustiça que as pessoas fazem consigo mesmas, já que elas nunca fizeram tanta coisa como agora. Nunca se produziu tanto, nesse estrato da sociedade economicamente ativo, que é justamente o que mais se queixa. Mais do que isso, a “vida moderna” nos empurra a usar cada um dos preciosos minutos e segundos para justamente “fazer” alguma coisa. Qualquer coisa. Ninguém quer – e nem acha que pode - ficar parado que se sente logo ansioso, como se estivesse desperdiçando sua vida.

Enfim, as pessoas estão fazendo MUITA coisa, especialmente com a ajuda de equipamentos digitais e conexões de alta velocidade. Trabalhamos, namoramos, educamos, cuidamos da casa, contatamos amigos, malhamos, nos informamos, saímos, rezamos, damos conselhos, pesquisamos, compramos. Fazemos isso “sem ter tempo” e às vezes, “tudo” ao mesmo tempo. A questão é que estas ações todas estão pulverizadas, ou seja, são atividades, muitas vezes, de pequena, pequeníssima duração, que se sucedem sem parar e acabam não sendo “contabilizadas” por nós, gerando um sensação de que fazemos menos do que devíamos. São demandas impostas pelo sistema de vida agitado onde estamos inseridos, que alimentam nossas já altas expectativas com relação ao que deve ser realizado e, principalmente, são demandas que acabamos impondo a nós mesmos, em meio às incontáveis variáveis e tentações que nos cercam, no dia-a-dia.

A verdade é que a maioria de nós está sentindo dificuldade de ser mais seletivo nas decisões sobre o uso do seu tempo, que tomamos a cada poucos minutos, em meio a essa grande profusão de estímulos. A sensação é de que tudo à nossa volta vai se acelerando, se acelerando, sem uma perspectiva de limite para esta aceleração. E, junto com esta aceleração, vem a saturação e o stress.

               (texto extraído do livro Tempo Orgânico, por Alvaro Esteves)

Fonte da ilustração: robertamonique.blogspot.com