quinta-feira, 29 de novembro de 2012

DIREITO AO DELÍRIO (Eduardo Galeano)



Neste vídeo "histórico", o escritor uruguaio Eduardo Galeno nos brinda com este DIREITO AO DELÍRIO, a partir da definição do que é e pra que serve a UTOPIA, do cineasta argentino Fernando Berri.

CLIQUE AQUI  para assistir ao vídeo (http://www.youtube.com/embed/rpgfaijyMgg)

Foto: El Clarin

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Compartilhar vivências é uma ótima forma de se usar o tempo

“...Tudo o que é compreendido, circula; sai de mim e existe entre nós. Faz parte de círculos e fluxos de pessoas. Toda a verdade
que é só minha não é de ninguém, nem mesmo minha. Todo o saber é partilha e todo o imaginário de ideias e de pequenos ou grandes ideais de vida vale não apenas pelo conteúdo, mas pela quantidade de vozes que foram aos poucos construindo.”  (CARLOS RODRIGUES BRANDÃO)

Esta reflexão foi retirada do mais recente "Caderno Arte de Educar", que está sendo lançado esta semana. Ele apresenta "UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA NA CONSTRUÇÃO DE TERRITÓRIOS DE APRENDIZAGEM", onde , mais uma vez a organização nos mostras como os processos de aprendizagem se enriquecem quando alunos e professores, comunidade e atores da sociedade, educação e cultura se dão as mãos.

Saiba mais sobre a Casa da Arte de Educar em  www.artedeeducar.org.br
Compartilhar conhecimento e experiências é uma maravilhosa e produtiva maneira de se usar o tempo. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Não deixe o stress lhe queimar

No ótimo artigo “Executivos no limite, riscos para os negócios”, publicado semana passada no jornal O Globo, o medico Gilberto Ururahy faz nos faz um duro alerta com relação ao stress nas empresas. Correndo atrás de metas organizacionais cada vez mais agressivas e difíceis de serem alcançadas, muitos executivos estão chegando “a um grau de exaustão física e emocional que pode levar à depressão e até o suicídio”, que é diagnosticado como Síndrome de “Burnout” (“queimar por inteiro”).

Segundo estudos da Universidade de Brasília, 70% da população brasileira sofrem de stress crônico e desse total, 30% apresentam Burnout, comenta Ururahy. É muita gente!!!! No ambiente corporativo , o stress é a resposta do indivíduo à pressão permanente das metas, aos riscos das tomadas de decisão, às exigencias de clientes, à disputa com concorrentes e mesmo à insegurança de perder o emprego.

Como não conseguem administrar seu tempo em meio a tantas prioridades que concorrem entre si, sucumbem ao stress. As consequencias para as empresas são claras: improdutividade, afastamentos e custos de doenças, riscos de decisões mal feitas.

E para as pessoas? Este alto nível de stress além de trazer doenças, traz uma estranha sensação de não felicidade.

Como questiono no livro Tempo Orgânico, estamos vivendo mais (expectativa de vida), mas sera que estamos vivendo melhor? Atrás de que estamos correndo com tanta voracidade?

O IBGE nos informa que mais da metade da nossa população sofre de doenças cronicas (cardiovasculares, diabetes, dores nas costas e articulações, cancer, etc. ). A Organização Mundial de Saúde (OMS) nos revela que, até 2030, a depressão sera a doença de maior incidência no mundo. É para isso que estamos (sobre)vivendo?

Minha sugestão é prestarmos MUITA atenção, mas MUITA mesmo, na maneira como estamos usando – e gerindo- nosso tempo. Que objetivos temos de fato, nos nossos diferentes papéis? Que estratégia pensamos usar para chegar neles? Sob a ótica do tempo, quais são as relações que (man)tempos conosco, com as outras pessoas e com o ambiente que nos cerca? Estamos conscientes e de fato plenamente presentes em cada momento da vida?

Enfim, muitas perguntas que sinalizam apenas para uma questão: não dá para seguir adiante à mercê deste stress endêmico de que nos fala Ururahy em seu artigo. Não é justo e, a meu ver, não é necessário deixarmos queimar o que temos de melhor dentro de nós. É hora de uma séria, profunda e criativa reflexão sobre isso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sumário do Livro Tempo Orgânico


Atendendo a pedidos, publicamos abaixo o conteúdo do livro: 

Prefácio – Ricardo Young
Prólogo - Tempo e vida sustentável de mãos dadas

Parte 1 – Reflexões sobre um tempo saturado

Capítulo 1 - A saturação do tempo: não dá pra fazer
tudo que queremos

Em busca do paraíso perdido
Não tenho tempo pra nada
Aceleração: porquinhos, olimpíadas e tempo real
Saturação: mais é melhor
Voracidade: atrás da última novidade
Ansiedades e frustrações
Tudo ao mesmo tempo agora
Quem está doente, afinal
Hora para estar feliz

Capítulo 2 - A saturação do planeta: não dá pra
continuar deste jeito

Onde vai terminar essa paixão por crescimento?
Outra avaliação de desenvolvimento
Algo de estranho no reinado do PIB
O Estado do Mundo é preocupante, sim
Casamento em Schan-Xi
Quantas Havaianas você tem?
Tendência não é destino
A leveza de ser sustentável

Capítulo 3 - Uma pequena viagem no tempo 
De nômades a sedentários: no compasso da natureza
O homem se liberta do sol
A ditadura dos relógios
Nem Einstein nem ninguém
Façamos como a ciência: de olho na natureza
Relógios muito particulares

Capítulo 4 - O Tempo Orgânico 
O Papalagui não tem tempo
Acordando para o tempo orgânico
As raízes do Tempo Orgânico
A estruturação do Tempo Orgânico
Mudança de hábitos: difícil, mas necessária e possível

Parte 2 – Dando vida ao Tempo Orgânico 
Capítulo 5 - Como sistematizar o Tempo Orgânico 
A vida sem roteiro?
Simples de entender, mas sempre acaba em pizza
O que todos estão cansados de saber
Pensar no futuro: visão, metas e desejos
Organizar o tempo: prioridades, registros, controles
Lidar com as barreiras e dificuldades
A Mandala do Tempo Orgânico

Capítulo 6 - Você com você mesmo 
Água e pensamentos
Um salto quântico para o Tempo Orgânico
Pensar no futuro
O gênio da lâmpada
O futuro é parceiro do presente
Discípulos de Nostradamus?
Noite escura no Tijupá
O Banco do Tempo
Sem prazo fica mais difícil
Estabelecer prioridades: os quatro quadrantes
O ter versus o ser
Medo, prazer e dor: programações do passado
Boas maneiras de se jogar tempo fora
Tecnologia de comunicação: o feitiço contra o feiticeiro?
Outras pequenas dicas sobre desperdícios & etc.
Você o protagonista

Capítulo 7 - Você e os outros 
Vamos jogar frescobol?
Interdependência
Pensar no futuro
Sinergia
Organizar o presente
Tempos compartilhados
Você me dá a receita?
O e-mail já era?
Lidar com barreiras
O perigoso território das comunicações
Saber ouvir, saber perguntar: de olho em quem sabe
Lições dos índios: fala um de cada vez
Conflitos
Diversidade e compaixão: ingredientes do tempo orgânico
Você e os outros no contexto das empresas
Duas ótimas metodologias de trabalho em grupo
Conference calls: reuniões em ritmo virtual
Ecologia das horas

Capítulo 8 - Você e o ambiente que o cerca 
Aplaudindo o por do sol
Pensar no futuro
Hora de repensar tudo
O relógio do longo agora
Organizar o presente
Se não eu, então quem? Se não agora, então quando?
Mas já não tem gente pensando nessas coisas todas?
Empreendedores sociais: todo mundo pode mudar o mundo
Um enorme exército em potencial
Novas pegadas
Aprendizes de formiguinhas
Lidar com as barreiras
O nó do consumismo (ir)responsável
Outro voluntariado: pela simplicidade
Investimentos com bom retorno

Capítulo 9 - O cultivo do Agora Slow food em New Jersey
Agora: um manifesto
Respiração, a grande coadjuvante
Bonsais, conchas e Aikidô
A velocidade do Agora
Desacelerando até o momento presente
Brincar de Deus
Sabá
Medito, logo existo
Agora é hora da criação
É brincadeira!

Epílogo 
Tao da sustentabilidade
Ecosofia: as três ecologias
Reinventar-se é preciso
Os ritmos da vida
Pixels, sustentabilidade e colchas de retalhos

Notas 

Bibliografia          

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Quatre-vingts - A arte de fazer 80 anos









O texto abaixo, de autoria de Washington Luiz Bastos Conceição, foi publicado em seu blog "Escritos do Washington" , apenas com o Quatre-vingt no título. Optamos por adicionar o "Arte de fazer 80 anos", pois foi assim que sentimos o texto.   

A quem interessa saber se alguém está completando 80 anos?

Aos seus parentes e amigos, parece-me. Os conhecidos, que em geral se mostram surpresos, com sinceridade ou não, dão pouca atenção ao assunto. Destes, serão exceções, provavelmente, aquelas pessoas que estão se aproximando dessa idade e passam a se preocupar mais com o que lhes reservarão os próximos anos.
Mas o próprio, o aniversariante, fica impressionado, pois sabe que, mesmo com o aumento significativo da expectativa de vida nos últimos anos, já passou da média, já está usando o lucro, a colher de chá do Todo-Poderoso.

Pois bem. O preâmbulo é para lhes contar que este mês estou entrando no time dos oitenta; com sentimento mesclado de admiração, preocupação, curiosidade, e com a sensação de que não está acontecendo comigo. Eu, um octogenário, incorporando a imagem que eu mesmo via dos mais velhos, há tão pouco tempo?

Não resisti, quis comentar o assunto com vocês, os poucos (porém atenciosos) leitores de meus escritos.
Oitenta, assim de repente, parece um número pesado.
Só que essa idade não chegou de repente, a velhice não se instala de vez; vai progredindo lentamente, sub-repticiamente, impondo novas restrições físicas, exigindo manutenção e revisões médicas com mais frequência (às vezes requerendo peças de reforço); e, ainda, solapando a memória. Enfim, é todo um processo que se desenvolve após o ápice da forma física, mais ou menos quando se atinge o que se convencionou chamar meia-idade.

Venho pensando, já faz algum tempo, nas várias fases da vida, pelas quais passamos, desde a infância até a velhice. Agora, entretanto, o novo patamar de idade me impressionou e me fez pensar em outra maneira de ver o número – e lembrei-me dos franceses, que não falam oitenta, mas sim quatro vintes, “quatre-vingts”. Ocorreu-me, então, que ao chegar aos oitenta, podemos considerar, por exemplo, que passamos por quatro fases de vinte anos. Nos primeiros vinte, vivemos o desenvolvimento físico e mental, adquirimos as bases do conhecimento. Nos vinte seguintes, a formação e as atividades profissionais, a constituição da família, a inserção na sociedade, o aprimoramento físico e mental. Dos quarenta aos sessenta, a maturidade, o apogeu profissional, o encaminhamento e a emancipação dos filhos. Dos sessenta aos oitenta, com a meia-idade, a adaptação às novas condições físicas, a passagem profissional do bastão e, com a aposentadoria, a ampliação do tempo de lazer; deste, é parte importante e muito agradável, para quem tem o privilégio de ganhar netos, o acompanhamento ao máximo de sua evolução.

Portanto, estou, na realidade, completando os “quatre-vingts”.
E agora, Washington?

Agora, é tratar da vida que me resta, começando por planejá-la.

Estimulado pelo livro “Tempo Orgânico”, do amigo Álvaro Esteves, estou ensaiando um plano de aperfeiçoamento de vida, a partir da visão de como desejo estar dentro de uns três anos, envolvendo saúde, residência, atividades diárias (incluindo o trabalho de escrever), relações sociais e lazer. A partir dessa visão (ou objetivo) que providências tenho de tomar em todas essas áreas para que eu consiga chegar lá nas condições esperadas.

Na verdade, é uma agenda semelhante às dos projetos com que lidei no trabalho a vida inteira. A diferença é que se trata agora de minha vida, nesta nova fase, e que eu tenho de controlar o projeto e não ficar apenas nas boas intenções de ano novo. Espero atingir as metas do plano.

Washington Luiz Bastos Conceição
(http://washingtonconceicao.blogspot.com.br)

domingo, 16 de setembro de 2012

As crises fabricadas por quem gosta de empurrar com a barriga

Tem gente que não tem jeito. Teima em ser “bombeiro” para apagar "incêndios", que ela mesmo provoca. E aí, tem a gratificação de posar de herói, de “salvador da pátria”, conseguindo “olimpicamente” resolver complexas e urgente situações que haviam sido geradas pelo próprio comportamento de procastinador e mau planejador do tempo. Muitos trabalham no modo "combate a incêndio" convencidos de que a adrenalina tem de estar presente.

O procastinador bombeiro usa muitos subterfúgios. Um dos favoritos é o comando de “seja perfeito”. Como tem de fazer tudo de forma irrempreesível, vai esperando o bloco de tempo suficientemente grande para agir de acordo com a necessária perfeição. Como este bloco nunca aparece, ele acaba empurrando com a barriga e tudo desemboca num monumental problema que toma indevidamente o tempo de muita gente .

E, em meio à crise obtém sempre muita atenção para o que fazem. Ficando no centro do palco, sob as luzes coloridas dos refletores, essas pessoas se sentem importantes . É gente que muitas vezes chega cedo e sai tarde do escritório, ou são donas de casa que se “descabelam” e se estafam por deixar para última hora certas atividades que poderiam ter sido feitas semanas antes. Mas assim ninguém saberia das suas façanhas e dificuldades. Há também o estudante que consegue, no último exame do ano, aquela nota difícil necessária para não repetir o ano ou ficar de recuperação. Vira herói diante dos pais e colegas.

Brook e Mullins dão uma receita interessante de como lidar com estes geradores crônicos de crises:

1. Avalie direito - já que as crises são fabricadas, sua importância e urgência provavelmente são menores do que o gerador de crises nos teria feito acreditar. Não se deixe levar pelas evidências. Todo cuidado é pouco.
2. As emoções do incêndio não são as suas - portanto você não precisa compartilhá-las como o gerador. A crise e o prazer de se envolver nelas pertence a ele.
3. Leve em conta a hipótese da existência de crises fabricadas - se você trabalha ou vive com uma pessoa dessas, faça seus planos assumindo que os incêndios virão e preveja o que você pode fazer para antecipar-se a eles e minimizar seus efeitos .
4. O combate a incêndios fabricados é uma forma dispendiosa (em termos de tempo, recursos e desgastes emocionais) e portanto não recompense este comportamento com qualquer gratificação objetiva ou subjetiva. Mostre os outros aspectos vantajosos de não se viver em crises.

E se o gerador de incêndios for você? Aí a coisa muda de figura. É preciso se conscientizar de alguns pontos importantes :
- Sua reputação por ser organizado e competente lhe trará maior confiabilidade do que insistir em ser herói o tempo todo. As pessoas acabam desconfiando desse comportamento e se cansam de gastar sua adrenalina.
- As crises constantes caem na paisagem. As pessoas aprendem a não dar destaque ou atenção a elas. Se pedir ajuda com menos frequência terá muito mais apoio quando o precisar, numa situação de incêndio verdadeiro.
- As crises fazem mal à saúde- seu físico e seu emocional são abalados por excessiva exposição ao stress e à tensão.
- Procure outro tipo de gratificação pessoal - amplie seus hobbies, seus contatos externos. Concentre-se nos seus objetivos maiores na vida os encare como a maior das gratificações quando alcançada.

domingo, 2 de setembro de 2012

Tempo fatiado: você está contando o seu?


Esta história do fatiamento do processo do mensalão – que se revelou uma estratégia ao mesmo tempo didática para os leigos que acompanham o processo e eficaz para julgamentos que até aqui têm se mostrado consistentes – me trouxe a lembrança do fatiamento do tempo.

Mas, ao contrário do ritmo lento e das fatias enormes de cada análise no Supremo, em nossas vidas, cada vez menos nos damos conta de como fragmentamos o dia em mínimos pedaços. E acabamos perdendo a consciência das duas consequências dessa realidade. Por um lado, não contabilizamos a enorme quantidade dessas pequenas coisas que fazemos e acabamos frustrados, sempre reclamando que não dá tempo para nada. Por outro lado, vamos deixando de ter sensibilidade para separar aquilo que de fato é relevante do que é tempo jogado fora, nesses fragmentos que vão se sucedendo, e ficando para trás, um dia após o outro.

Não tenho a menor dúvida que as oportunidades para termos mais tempo aplicado no que é IMPORTANTE passam exatamente por este “varejão” de segundos e minutos e a nossa maneira de lidar com eles. Por trás de cada fatia, grande ou milimétrica, está sempre envolvida uma decisão nossa ao optarmos por uma atividade ou por outra. 

Grande parte dessas decisões passa despercebida, por exemplo, ao desviarmos nosso olhar para um SMS – ou uma postagem de FB - em meio a uma tarefa que demandaria concentração absoluta para ser concluída com eficácia.  Ou quando estamos multiprocessando informações, em casa, tudo "ao mesmo tempo", com a TV ligada, falando ao telefone, respondendo e-mails no computer ou iPad, ligados nas mensagens no smartphone e passando os olhos numa revista ou jornal. Tudo isso enquanto a panela está no fogo ou outra atividade “analógica” está em curso. 

É claro que o cérebro só dá atenção dedicada a uma coisa de cada vez, mas o fatiamento vai se multiplicando, se acelerando, nos “desgastando” e às vezes nos estressando, sem nos darmos conta disso. E isto impede que possamos fazer um inventário “completo” das mil pequenas ações que fizeram parte do nosso dia, o que nos daria uma sensação gostosa de realização. Possivelmente, uma boa parcela dessas "mil coisas" pudesse simplesmente não ser feita, gerando blocos de tempo maiores para recuperarmos aquelas atividades que requerem de fato maior atenção e reflexão. Aquelas que tanto reclamamos nunca ter tempo para fazê-las.      

Fonte da Foto: http://forum.xda-developers.com/showthread.php?p=25123872

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Não, uma palavra sagrada


Geraldo Ferreira, meu amigo e parceiro de muitos seminários de Administração de Tempo, é quem contava o caso (verídico) de um certo gerente que tinha um cartaz muito sugestivo, pendurado na parede atrás de sua mesa.

O peça tinha em destaque a palavra NÃO e um subtítulo: Palavra sagrada. Aí o texto explicativo: Aparece 12 vezes nos 10 mandamentos de Deus (Êxodo 20. 1 a 17).

Sempre que alguém entrava na sala, a primeira coisa que o tal gerente fazia era apontar para o cartaz, dando a priori o tom da conversa, caso fosse estar diante de algum pedido indesejado. Era um sujeito folclórico, sem duvida, mas fica dele uma lição interessante.

Um dos fatores de desperdício de tempo mais reconhecidos é nossa dificuldade de dizer NÃO. Ou melhor, a nossa dificuldade de saber dizer o NÃO. Costumo lembrar que a coisa mais importante, nesse caso, é termos a consciência de que sempre que dizemos NÃO a alguma coisa, estamos tacitamente dizendo SIM a outras prioridades que são mais relevantes para nossa vidas. E quanto mais claras e bem definidas forem estas prioridades, mas fácil será dizer NÃO a prioridades que outras pessoas estão querendo nos "impor".

Do cartaz, não precisamos, certamente, mas disciplina e atenção para lembrar os SIM por trás de nossos NÃO pode trazer bons frutos a uma rotina de vida "sem tempo pra nada".


  

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Entrevista à Atitude Sustentável sobre Tempo Orgânico





A entrevista abaixo foi dada à Gisele Eberspacher, da Revista Atitude Sustentável.

Atitude Sustentável: De maneira resumida, como o tempo se relaciona com a sustentabilidade?
Alvaro Esteves: O fato é que nos tornamos escravos de uma concepção de tempo que não se sustenta mais, e contribuímos, com nosso estilo de vida acelerado e nossa avidez por mais informações e mais opções de consumo, para impactar e ameaçar o ambiente natural e social onde vivemos.
Assim como a economia, a sociedade, a produção e o consumo estão sendo repensados, nossa relação com o Tempo não pode ficar fora dos novos conceitos de Sociedade Sustentável. E há muitas questões aí relacionadas com o tempo, como a simplicidade, novas maneiras compartilhadas de se lidar com a interdependência, e as lições dos ritmos e ciclos da natureza.
Atitude Sustentável: Quando e como esse tema começou a ser uma preocupação na sua vida?
Alvaro Esteves: Com o uso do tempo, a relação é antiga. Em 1993 comecei a conduzir cursos sobre gestão eficaz do tempo e logo em seguida escrevi o livro “Uma questão de tempo”, que tinha aquele foco. Desde 2003, com a criação da Ekobé, empresa de consultoria em sustentabilidade corporativa da qual sou sócio, vinha tendo a oportunidade de refletir sobre a correlação entre aspectos da temporalidade e as questões socioambientais com as quais lidava pessoal e profissionalmente. Há uns três anos, surgiu o conceito de Tempo Orgânico.

Atitude Sustentável: Como você vê que uma maior organização do tempo pode tornar nossas cidades mais sustentáveis?
Alvaro Esteves: Primeiro, há a perspectiva individual do tempo, ou seja qual a contribuição que cada um de nós pode dar para as questões básicas como energia, água, postura e prática de descarte/lixos . Que tempo dedicamos a cada uma desses aspectos e onde o tempo entra neles (um exemplo simples: tempo de um banho)? Há a importantíssima questão da mobilidade, em parte relacionada com algumas decisões nossas do tipo: como quero/posso me descolocar na cidade; quais os limites das negociações sobre trabalhar em casa (home office) ou trabalhar mais perto de casa? Ora economizando tempo, ora investindo tempo de maneira mais criativa, podemos sempre procurar reduzir os nossos impactos.
Depois, há uma perspectiva de como estamos sendo capazes de compartilhar nosso tempo, produtivo ou de lazer, com outras pessoas, incluindo aí o que dedicamos a aprender novas práticas ou debater/encaminhar novas propostas que devem ser transformadas em políticas públicas na área de sustentabilidade urbana.

Atitude Sustentável: De que maneira as pessoas podem melhorar a questão do tempo?
Alvaro Esteves: O que estamos propondo é uma reflexão profunda sobre como e porque estamos fazendo as coisas. A tecnologia nos torna mais eficientes em várias atividades, mas ao mesmo tempo nos traz expectativas exageradas. Achamos que podemos ter acesso a muito mais informações, coisas, desejos e pessoas do que somos capazes, gerando estresse e, paradoxalmente, ameaçando, ao mesmo tempo nossa eficácia e nosso sentido de realização. O Tempo Orgânico propõe novas relações do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com a natureza, na forma de usar o tempo.

Ref: http://atitudesustentavel.uol.com.br/blog/2012/07/17/tempo-organico-e-sustentabilidade/

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Papalagui não tem tempo - observações de um nativo de Samoa sobre os "sem tempo"


Esse é o título de um dos capítulos do livro “O Papalagui”, publicado em 1920, pelo escritor alemão Erich Scheurmann. O autor vivera em Samoa durante a primeira guerra mundial e, segundo conta na introdução do livro, havia conquistado a confiança de Tuiávii – um chefe nativo local. Este lhe confiara os apontamentos que havia feito durante uma visita aos países da Europa, no fim do século anterior, e concordou com sua divulgação.

Papalagui é como Tuiávii denomina o homem branco europeu e nas suas observações, ora divertidas, ora severas – mas invariavelmente justas – fica claro o choque de duas culturas tão diversas. O olhar de Tuiavii é, ao mesmo tempo inocente e crítico. Vai fundo ao mostrar os conflitos que surgem quando o respeito à natureza e a simplicidade, que fazem parte da essência dos nativos, se defrontam com a ânsia pelo progresso e a maneira complicada de ver e de viver do homem branco.

“O Papalagui nunca está satisfeito com o tempo que tem... Nunca existe mais tempo do que aquele que vai do nascer ao por do sol e, no entanto, isto nunca é suficiente para o Papalagui”.


É nítida a crença de Tuiávii de que o tempo é cíclico. É algo que se renova a cada dia, o que ele entende como uma dádiva. Não é algo a priori escasso, como vê o Papalagui. Tuiávii não perde tempo pensando no tempo perdido ou no tempo a perder. Sabe que isso toma tempo e, principalmente, gera desgaste de energia e imobiliza.

“Certos Papalaguis dizem que nunca têm tempo: correm feito loucos de um lado para o outro com se estivessem possuídos pelo aitu (espírito malévolo)”.

O que diria Tuiávii se nos visse, hoje, 90 anos depois, aceleradíssimos, apertando botões e mais botões e parecendo que falamos sozinhos? E o que é pior: andando em círculos, pensando que estamos andando para a frente. Por vezes, tanto esforço para nada. Ou quase.

Acho que está na hora de reaprendermos a ver nosso tempo com olhos de um Tuiávii. Se o Papalagui não tem tempo é porque insiste em fatiá-lo e fragmentá-lo, sem perceber o seu todo.

(Condensado do livro "Tempo Orgânico").