segunda-feira, 11 de junho de 2012

PERSONAL O QUE?


Possivelmente, o primeiro serviço do tipo “personal “ de que eu tenha ouvido falar foi o professor particular: aquele contratado para dar aulas individuais a quem tinha dificuldades em alguma matéria na escola. Isso, é claro, foi MUITO antes de aparecer o personal trainer, de certa forma um precursor muito popular dos serviços pessoais que hoje estão surgindo em toda parte: personal stylist, personal chef, personal organizer, o passeador de cães, etc.

Em geral, a grande motivação para estes serviços terceirizados é a falta de tempo do contratante. Atoladas nos seus cotidianos, sempre sem “ tempo pra nada”, as pessoas acabam pedindo socorro a alguém e novas vocações e profissões são descobertas.

No livro The outsourced self (A terceirização do self), lançado nos Estados Unidos, a autora Arlie Russell Hochschild mostra a abrangência da transformação que esta ocorrendo na vida privada daquele pais, em direção a nichos de mercado cada vez diversificados. Com base em pesquisas e entrevistas tanto com os vendedores quanto compradores, Alie avalia que tudo que antes fazia parte da vida privada, especialmente no contexto das famílias – amor, amizade, cuidados com as crianças - está sendo transformado em especialidades que são empacotadas para serem vendidas a americanos um tanto atormentados.

Elas incluem desde os sofisticados serviços para se encontrar namorados(as) - onde a pessoa “é treinada para ser o CEO do seu próprio amor”(!) , a planejadores de casamento que criam a “narrativa pessoal“ dos noivos para construir a essência (do show) da cerimônia ; de “nomelogistas” (que ajudam você a dar o nome a seu filho), a especialistas em ajudar as crianças na fase de “tirar a fralda”; de “querologistas” (que assessoram a pessoa a saber melhor o que quer na hora da tomada de decisões importantes), a gente contratada para espalhar as cinzas do seu ente querido no oceano de sua preferencia, a autora nos revela um mundo em que os mais intuitivos e emocionais atos humanos estão se transformando em algo para ser contratado.

Há, inclusive exemplos que visam preencher carências emocionais que nascem da solidão de quem trabalha sem trégua , como o “Alugue um amigo” (para ir ao cinema, fazer compras, conversar ou o desconcertante Alugue uma avó (Rent a Grandma), em que uma senhora vai até sua casa para preparar um jantar com aquelas receitas de antigamente, contar historias do seu (dela) tempo e servir de interlocutor para quem tem nostalgia de reunir uma verdadeira família tradicional.

Com tantas ofertas se configurando, o perigo aqui é que o mesmo espirito consumista na compra de bens/produtos se replique na contratação de serviços pessoais.

Fonte da foto: wwp.greenwichmeantime.com

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